Em Porto Alegre, um dos mais renomados arquitetos brasileiros da atualidade esboçou como seria seu projeto de uma cidade ideal: sem grades, com o menor número possível de automóveis nas ruas e integrada a belezas naturais como rios e lagos.
Responsável pelo desenho do Instituto Ling, uma das modernas referências arquitetônicas de Porto Alegre, o paulista Isay Weinfeld participou nesta quinta-feira de um bate-papo no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) dentro da programação do 21º Congresso Brasileiro de Arquitetos.
Um dos mais requisitados profissionais brasileiros hoje, com projetos em andamento em países como Estados Unidos, Itália, Portugal e Áustria, Weinfeld defendeu durante a rodada de perguntas com a plateia e em conversa com jornalistas ao final do evento a circulação de pessoas a pé como uma forma de trazer vida e segurança a grandes cidades fustigadas pelo temor da violência, a exemplo de Porto Alegre.
Para isso, segundo ele, os arquitetos têm uma importante missão: convencer governantes e investidores privados a privilegiar o convívio pessoal, promover a mistura entre comércios e moradias em uma mesma área e a restringir a circulação de automóveis para melhorar a qualidade de vida nos centros urbanos.
— Sou um fanático contra o automóvel. Tudo o que puder ser feito a pé, seria fundamental que fosse feito assim — afirmou o arquiteto e cineasta.
Outra medida simples e eficaz seria a utilização comercial do andar térreo de prédios residenciais — e sem as grades que se tornaram tão comuns na paisagem urbana da Capital e outras metrópoles brasileiras.
— Quem não prefere viver numa cidade sem grades? Quanto mais gente na rua, mais iluminação, mais segurança haverá, mesmo sem grades. Mas é difícil mudar isso. Temos de ir devagarinho na direção de como as coisas deveriam ser.
Weinfeld acredita que soluções alternativas de mobilidade, como as ciclovias, avançam de maneira muito lenta não só no Brasil:
— Mesmo em cidades como Nova York, avança um pedaço por vez. Parece que só fazem as ciclovias quando está todo mundo dormindo.
O especialista preferiu não fazer comentários específicos sobre a arquitetura ou a condição urbanística de Porto Alegre por não conhecer a cidade o suficiente. Mas ressaltou a importância de que os municípios que disponham de rio ou lago se voltem para suas riquezas naturais.
— Isso permite aproveitar a cidade de outra forma. O ideal, claro, é que sejam limpos.
No bate-papo com arquitetos e estudantes (ele preferiu evitar o formato de palestra por considerá-lo "muito chato"), o arquiteto resumiu como vê seu estilo de trabalho:
— Procuro fazer uma arquitetura simples, intuitiva, emocional, que não se encaixa em escolas, modelos ou modismos. Uma arquitetura que fala baixo.
O congresso
O 21º Congresso Brasileiro de Arquitetos ocorre entre os dias 9 e 12 de outubro em diferentes espaços culturais de Porto Alegre. Com cerca de 3 mil participantes, busca promover a vivência dos espaços da cidade. Mais informações no site www.21cba.com.br.