Famílias da Vila Liberdade, na zona norte da Capital, já completaram mais de 2,4 mil dias à espera de um lar fixo. Agora, elas têm uma nova esperança de remoção: a prefeitura afirma que irá realizar, até o final do ano, a reintegração de posse do condomínio para onde serão levadas – o empreendimento foi ocupado irregularmente em 2014.
Em 27 de janeiro de 2013, o fogo atingiu parte da comunidade próxima à Arena do Grêmio. Desde o ocorrido, 194 famílias afetadas vivem em residências provisórias – as casas de passagem – ou sob o aluguel social.
Apesar de o fogo ter consumido cerca de 90 casas, a prefeitura assegurou que a reestruturação da comunidade iria abranger todas as 700 famílias que viviam no espaço. O pontapé inicial na transferência seria a mudança para 82 unidades construídas na Rua Frederico Mentz, no bairro Navegantes. O local está menos de um quilômetro da vila. E foi este o espaço ocupado em 2014 – imprevisto que interferiu nos planos da prefeitura. Desde então, o município tenta reaver as residências e, enfim, realojar as primeiras famílias da Vila Liberdade no local.
A novidade do caso é que, segundo o superintendente de Ação Social e Cooperativismo do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Emerson Correa, a reintegração de posse na Rua Frederico Mentz deve ocorrer até o final deste ano.
– O juiz já deu o despacho da reintegração, precisa apenas comunicar o oficial de Justiça. A Procuradoria-Geral do Município (PGM) também peticionou junto ao juiz para dar celeridade ao processo. Faremos o possível para concluir até dezembro – projeta Emerson.
Prefeitura planeja nova licitação
Entretanto, após a reintegração de posse, haverá mais uma etapa para o início das mudanças. A prefeitura precisará fazer uma nova licitação para reformar e concluir as obras no empreendimento.
O local não estava pronto quando foi invadido. O Demhab não projeta data para as primeiras transferências. Isso dependerá do sucesso da licitação lançada após as casas serem retomadas pelo município.
Como o empreendimento no bairro Navegantes só comporta 82 famílias, resta saber o que será feito com os demais moradores da Vila Liberdade.
A área onde está a comunidade surgiu da ocupação de dois terrenos de propriedade do Estado. O governo estadual doou o espaço ao município em 2015, permitindo que a prefeitura construísse casas na região. Essa ação precisava ser aprovada pela Câmara de Vereadores municipal, o que ocorreu em novembro do ano passado. Desde então, o Demhab aguarda liberação de recursos da Caixa Econômica Federal para licitar obras.
Clima de pessimismo entre moradores
Caminhando pelas vielas do amontoado de casas provisórias da Vila Liberdade, é difícil encontrar algum morador que ainda sonhe com a casa própria. Entre as paredes de madeira fina que dividem as residências, alguns moradores fazem reparos dos danos causados por um novo incêndio, ocorrido recentemente.
A diarista desempregada Aparecida Nunes, 52 anos, precisou refazer a parede de sua cozinha depois da nova ameaça do fogo. Na pequena casa sem forro e com tábuas largas servindo de assoalho, ela relata a sua angústia:
– Está todo mundo cansado de esperar pela mudança. Só ouvimos promessas e mais promessas.
O estudante Wesley Deivid Mendes, 18 anos, divide a casa com a mãe e as duas irmãs. Ele recorda que, depois do incêndio mais recente, a família chegou a ficar dois dias sem luz e sem água.
– Foi preciso trocar parte da fiação que queimou. São casas muito simples, não poderíamos estar morando tanto tempo nestes espaços – acredita Wesley.
Morador da Liberdade há 16 anos, o servente de obras José Machado Prestes, 66 anos, é direto quando questionado sobre a expectativa de receber o lar prometido pela prefeitura:
– Essa esperança eu perdi. Muito antes do incêndio, quando a vila começou, já prometiam regularizar e, até hoje, nada.