A notícia de que a Caixa Econômica Federal prepara mudanças na sua linha de financiamento imobiliário, que podem baixar a taxa para 6% ao ano, foi recebida de bom grado – mas também com cautela – pelo mercado imobiliário. Conforme reportagem publicada pela Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (18), a CEF aguarda autorização do Banco Central para anunciar, nas próximas semanas, uma redução de até 31,5% dos juros dos financiamentos imobiliários.
O reajuste dos novos contratos não seriam mais calculados a partir da Taxa Referencial (TR), mas, sim, pela inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que, de acordo com analistas financeiros ouvidos pelo Banco Central, deve fechar em 3,8% neste ano. Também pesariam taxas adicionais – mas que ficariam inferiores à atual média do mercado, de 8,5%.
Moacyr Schukster, presidente do Secovi/Agademi, entidades que representam o mercado imobiliário no Rio Grande do Sul, avalia que juros menores podem alavancar o mercado, que ainda sofre com efeitos da crise econômica. Entretanto, diz que é preciso cautela, para que se conheça melhor a nova linha da Caixa.
— O mercado ainda se recupera muito lentamente, com alta de apenas 1% ao ano nas vendas. Toda tentativa de facilitar o financiamento é válido, mas é preciso conhecer bem a proposta da Caixa para saber como vai ser formado este juro, se realmente trará vantagens ao consumidor — pondera.
Conforme o Secovi, em maio havia 14,2 mil imóveis usados disponíveis para venda em Porto Alegre, mantendo uma média nos últimos 12 meses. No caso dos imóveis novos, a velocidade das vendas tem subido, de acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o que sugere que há menos dificuldade para encontrar compradores. Apesar de solicitação da reportagem, o Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS) não revelou dados sobre lançamento e venda de novos imóveis no Estado.
Na opinião do diretor institucional da Associação dos Mutuários e Moradores do Rio Grande do Sul (AMMRS), Anderson Machado, a notícia aquece o mercado e estimula a concorrência entre bancos, pois atualmente há instituições privadas com taxas melhores que as da Caixa. Entretanto, ele concorda que, sozinho, um barateamento da parcela não será capaz de reverter as atuais baixas vendas.
— O grande problema atual não é indexador do contrato (TR ou IPCA), mas, sim, o poder de compra da população, com um grande índice de inadimplência não pelos juros altos, mas pela queda de renda e desemprego — afirma.
Não está claro se a nova linha, caso seja confirmada, valeria para financiamentos de usados. Segundo a Folha, as condições valerão apenas para novos contratos, ou seja, não será possível migrar de um modelo para outro. A Caixa informou a reportagem que, por enquanto, não irá se pronunciar sobre o assunto.
Anderson Machado sugere que as pessoas interessadas em comprar um novo imóvel não se deslumbrem com as melhores condições propagadas. Ele sugere muito planejamento financeiro.
— Independentemente da condição de financiamento, é sempre importante alertar os futuros mutuários a se programar a longo prazo, pois são contratos de 20, 30 ou 35 anos. Não se deve assumir uma prestação no limite da sua capacidade de pagamento, aconselhamos que a prestação não ultrapasse 20% da renda familiar.
Mercado de imóveis novos no Brasil
O mercado de imóveis residenciais no Brasil acelerou os negócios no primeiro trimestre, com o aumento de 9,7% nas vendas de unidades e de 4,2% nos lançamentos de novas casas e apartamentos, em relação ao mesmo intervalo de 2018. Os dados são da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Também houve queda no estoque de imóveis novos, que já chegou a ser de 21 meses, mas agora está em 11,6 meses. O Sinduscon-RS, que calcula qual a taxa no Estado, não divulgou informações sobre o mercado gaúcho.
Mercado de imóveis usados em Porto Alegre
Em maio deste ano, haviam 14.252 imóveis usados em oferta em Porto Alegre, um acréscimo de 2,2% em relação ao mês anterior. A média mensal de unidades para comercialização, nos últimos 12 meses, foi de 14.317 unidades, sendo 11.945 residenciais (57% a mais em relação a cinco anos), 1.069 comerciais e 1.303 de outros tipos.
Planeje a compra de seu imóvel
- Quem pretende comprar por financiamento deve ter uma reserva (entre seis e 12 meses de salário) para esse tipo de operação financeira, para evitar que um eventual aperto nas contas leve à inadimplência.
- Imprevistos como doença, queda de renda ou desemprego devem ser levados em conta, ainda mais em período instável da economia como o atual.
- Compare as taxas de diferentes bancos, e não se deixe levar apenas pela sugestão da imobiliária.
- Evite assumir uma prestação que seja superior a 20% da renda familiar mensal.
- Se você já planeja a aquisição e vem se ajustando financeiramente, pode ser a chance de um bom negócio com a queda nos juros.
- Tome cuidados ao assumir a parcela, pois quem não paga corre o risco até da perda do imóvel: a chamada retomada por parte da instituição financeira.
- Reúna a família e converse sobre o tema. Um ponto a ser levado em conta é o custo de vida da região onde se deseja morar, que pode ser mais alto do que o atual.
- O caminho mais seguro é poupar parte do que ganha. Faça uma simulação em qualquer banco de quanto custaria a prestação e comece a guardar o equivalente a essas parcelas em um investimento conservador como CDB ou tesouro direto.