Não é fácil ser vizinho de uma obra de grande porte por uma semana ou um mês - imagine por sete anos. Moradores do entorno da duplicação da Avenida Tronco, em Porto Alegre, se queixam dos inconvenientes provocados pela lentidão do projeto, que incluem prejuízos aos proprietários de pequenos comércios.
— Em razão de um bloqueio, que deixou um trecho da Cruzeiro do Sul apenas para acesso local, nosso movimento caiu uns 80%. Dá apenas para sobreviver — afirma o comerciante Franck Matos, 21 anos, que trabalha em uma loja e assistência técnica de eletrodomésticos.
Também permanecem na região os últimos proprietários a serem transferidos. Um deles é Flávio Matos, 57 anos, que tem um imóvel na Avenida Divisa. Matos ainda não deixou o terreno porque recorreu à Justiça.
— Hoje oferecem R$ 80 mil para a gente sair, mas não se consegue outro imóvel nesse valor em Porto Alegre — diz o morador.
Quem já deixou o local optou por duas saídas: bônus-moradia para adquirir uma casa ou apartamento em qualquer lugar ou aluguel social até ficarem prontos condomínios no entorno da Tronco. O superintendente de Ação Social e Cooperativismo do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Emerson Correa, afirma que o valor do bônus aumentou de R$ 52 mil para R$ 80 mil em razão de reclamações da comunidade. O aluguel social é de R$ 500 mensais, e serve para atender quem aguarda a construção de três condomínios.
O trio de empreendimentos previstos somará 356 unidades. Porém, segundo Correa, o município ainda aguarda a chegada de R$ 31 milhões prometidos pelo governo federal para construir as novas casas que receberão antigos moradores do eixo de mais uma obra que se arrasta na Capital.
Cronograma conturbado
2010
Ganha força a ideia de duplicar o eixo da Avenida Moab Caldas, conhecida também como Tronco, a fim de desafogar o trânsito em direção à Zona Sul. O projeto é previsto há décadas no Plano Diretor, mas nunca havia dinheiro para tocá-lo. Enfim, a escolha da Capital como uma das sedes da Copa de 2014 pode viabilizar o antigo sonho.
2012
A ordem de início do primeiro trecho das obras de duplicação é assinada no dia 28 de maio, e o trabalho tem início no mês seguinte. O canteiro de obras é montado entre as vias Icaraí e Coronel Gaston Haslocher Mazeron. Os primeiros serviços incluem a construção de sistemas hidráulicos e de esgoto. A previsão inicial de término era abril de 2014.
2013
A obra enfrenta dificuldades em razão da demora para remover 1,4 mil famílias do eixo da duplicação. Muitos moradores reclamam do valor pago como bônus (R$ 52 mil à época, reajustado depois para R$ 80 mil) e da demora na tramitação dos documentos. A construção de casas para receber moradores que querem permanecer na região também avança lentamente.
2016
Em razão da falta de recursos do município para custear a obra e garantir a remoção das famílias e dos imóveis comerciais que ocupam o leito da duplicação, o trabalho de alargamento acaba paralisado.
2018
Junho
As obras são retomadas depois de a Caixa autorizar a prefeitura a remanejar R$ 15 milhões de recursos do Programa de Financiamento das Contrapartidas do PAC para o pagamento de bônus-moradia e aluguel social para famílias do entorno.
2019
Julho
Alegando ter cerca de R$ 3 milhões a receber, as construtoras responsáveis pela duplicação da Tronco interrompem o trabalho. Os valores devidos não estariam sendo depositados desde o fim de março, segundo as empresas Pelotense, Toniolo, Busnello e Brasília Guaíba. O consórcio também reclama da demora para as remoções de imóveis.
Outubro
A prefeitura assina uma ordem de reinício das obras, já que a liberação da área do Grêmio Gaúcho, o Gauchinho, permite que a empresa trabalhe na construção de uma das duas rotatórias do projeto (a outra já foi feita). O município também informa ter regularizado os pagamentos pendentes.