Construído nos anos 1960 por um casal de suecos que acolhia crianças carentes, um casarão no bairro Mário Quintana, zona norte de Porto Alegre, pede ajuda. Condenado por problemas estruturais, o prédio que sedia a Clínica Esperança de Amparo à Criança está interditado há oito anos. Os 25 acolhidos — encaminhados pelo Juizado da Infância e da Juventude após sofrerem negligência familiar —, são atendidos em outra ala da instituição, no mesmo terreno.
— Queremos reabrir o casarão para dar mais qualidade de vida às nossas crianças. Essa casa que tem uma história tão bonita — deseja Rosemary Lopes Gonçalves, coordenadora de projetos da organização não governamental (ONG) e uma das criadoras da campanha Ajude a Restaurar o Casarão da Clínica Esperança.
Até 1997, o casarão atuava como uma espécie de orfanato e iniciou o tratamento de uma doença até então pouco conhecida, segundo o coordenador da clínica, Benhur Santos:
— Uma criança estava doentinha e foi atendida aqui. Se descobriu que estava com o vírus HIV, e esse foi o foco do casal de fundadores a partir daí.
Com a missão de "oferecer cuidado, amor e proteção", a ONG ampliou o atendimento em 2011 para vítimas de violência, abuso sexual e abandono afetivo. Reflexo notado por quem tenta mudar essa realidade.
— Temos cuidado com qualquer toque, pois eles vêm de uma realidade diferente. Um carinho pode ser mal interpretado, pois era recebido de outra forma. Não é fácil no início — explica a técnica em enfermagem Vera Regina Conceição da silva, 39 anos, 12 deles ao lado das crianças.
Amparadas, as crianças ficam na clínica até serem adotadas ou completarem 18 anos. Em 22 anos, foram realizados 840 acolhimentos.
Na cinquentenária residência de dois andares, com cerca de 150 metros quadrados, cada passo é dado com cuidado. O piso foi consumido pelo cupim e o forro expõe pedaços de pau pendidos em direção ao solo. Do lado de fora do casarão, pesadas telhas de barro cederam contra as tesouras de madeira, como se atingidas por uma bola de ferro. As paredes têm a pintura descascada e o toldo rasgado já não protege mais as portas e janelas.
São necessários R$ 350 mil para o restauro total de teto, assoalho, aberturas e paredes de madeira. Com R$ 50 mil, Benhur afirma já ser possível trocar o telhado.
Ao todo, 38 funcionários trabalham diariamente na instituição, aberta 24 horas. Em um amplo terreno arborizado, a ONG conta com estrutura bem cuidada, com parquinho infantil e áreas de descanso sob a sombra das copas. De recursos escassos — parte da verba é repassada pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) —, o espaço prospera com ajuda de voluntários.
— Temos um berçário que foi montado inteiramente com doações, de um grupo de senhoras que faz jantares beneficentes. É uma ajuda indispensável, faz toda diferença no nosso trabalho — afirma Santos.
Para atender aos 10 bebês, a clínica necessita de leite em pó e fraldas de todos os tamanhos. Uma rifa sorteará, no dia 12 de outubro, uma camisa oficial do Grêmio, autografada pelo treinador e ídolo tricolor Renato Gaúcho. O item foi entregue por uma fisioterapeuta próxima ao ex-jogador.
Dentre os profissionais estão assistentes sociais, educadores, psicólogos, cozinheiros e trabalhadores que cuidam da limpeza. Mães de coração, como define Vera.
— Acordar e receber um "bom dia", um "eu te amo" ou um abraço. Isso é o mais gratificante. Algumas voltam depois de adotadas e os pais dizem "obrigado por cuidar do nosso filho". Isso não tem preço — diz a cuidadora, ansiosa para encerrar a entrevista e voltar para sua família adotiva.
Doações para a obra podem ser feitas diretamente no site da instituição: www.clinicaesperanca.org