Há dois anos, um grupo de voluntários leva a pessoas em situação de rua mais do que aquela ajuda imediata. O projeto Morador de Rua Existe faz reuniões no primeiro sábado de cada mês, na Praça Otávio Rocha, em Porto Alegre, com roda de violão, orientação para quem quer entrar no mercado de trabalho e muita conversa.
Orgulhosa ao falar das pessoas auxiliadas, Vanessa Oliveira, 25 anos, conta as mais variadas histórias.
— Temos desde casos tristes até pessoas que vêm nos dizer que conseguiram alugar uma casa e sair da rua — afirma, sorridente, a estudante de Psicologia.
Ao menos cem pessoas frequentam as reuniões no tradicional endereço do Centro Histórico. Em uma ação de Natal, realizada em dezembro de 2018, o recorde: 400 dividiram galetos servidos pelo grupo, com churrasqueiras instaladas ao ar livre.
Dos casos de quem trocou a casa pela rua, Vanessa cita o exemplo de um médico diagnosticado com esquizofrenia que, em surto, foge da família. Letrado e afirmando ter curso superior, outro senhor pede por livros.
— Ele disse na última ação que terminou um livro do Shakespeare e queria saber se a gente tinha outro pra doar: “Qualquer um que tu tenhas para me trazer” — lembra.
Entre as famílias que vivem em vulnerabilidade, muitas têm crianças pequenas e até de colo. Uma avó leva seus sete netos aos encontros, segundo a estudante:
— Ela parece ter casa, mas não tem onde deixá-los. Por isso, gostaríamos de ter algum assistente social voluntário para nos ajudar.
Sessenta voluntários participam do Morador de Rua Existe. São profissionais das mais variadas especialidades, como engenheiro, jornalista e nutricionista. Metade costuma ir aos encontros, mas o caminho está aberto para quem quiser contribuir.
— Toda ajuda é bem vinda. Com lanches rápidos, com música ou até mesmo uma conversa. Basta aparecer na praça à tarde — diz Vanessa.
Os músicos que levam entretenimento a quem enfrenta as dificuldades de não ter um teto
são sempre voluntários. Roupas, lanches e bebidas não alcoólicas também são distribuídas.
— Eles nos recebem sempre com alegria. Algumas pessoas têm preconceito, mas os moradores de rua zelam por quem conhecem. A caminho do trabalho criei amizade com um que sempre cuida o meu caminho — acrescenta.
Panfletos com informações sobre os albergues municipais foram confeccionados pelo grupo, que busca alguma gráfica parceira para imprimir currículos em um projeto futuro de ampliação da assistência prestada.
O próximo evento está programado para 7 de setembro, das 15h às 18h — em caso de chuva, será transferido para o final de semana seguinte. Contatos para ajuda de qualquer tipo podem ser feitos pelas redes sociais: Morador de Rua Existe no Instagram e no Facebook.