Entre sacolas de lixo rasgadas, onde cães dividem espaço com carrinhos de papeleiros que esquivam dos buracos da rua e das poças, vivem os porto-alegrenses com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade.
Na Ilha Grande dos Marinheiros, geograficamente privilegiada, às margens da BR-290, a reciclagem já não basta para manter alimentadas as famílias que ali se instalaram. E é nesse horizonte avistado da pomposa orla revitalizada, em uma Porto Alegre oposta, que um grupo se mobiliza com a audácia de transformar — nem que seja por um dia — a vida de quem se sente invisível.
— É como se a gente não fosse esquecido. Alguém lembra de nós, sabe que a gente existe e mora em um local tão precário e que precisa de quase tudo — define Sonia Nascimento, 43 anos, mãe de quatro filhos e avó de um menino.
O trabalho que coloca luz sobre o povo da Ilha Grande dos Marinheiros tem no próprio nome a sua finalidade. O Pão de Irmão Pra Irmão reúne cerca de uma dezena de voluntários — alguns que vivem na própria ilha, como Sonia —, que levam até a sede da comunidade utensílios de cozinha e centenas de quilos de alimentos que serão preparados para oferecer ao menos um domingo bem alimentado para mil pessoas.
— Queremos levar carinho, dar um pouco de dignidade para essas pessoas. Fazer com que se sintam melhor recebidas, porque quem mora na periferia é visto de uma maneira diferente — define o coordenador do Pão de Irmão Pra Irmão, Fábian Chelkanoff.
A iniciativa de 2017 tem como parceira a Sociedade Espírita Casa do Evangelho e a Fundação Aliança do Bem.
— São pessoas que precisam de tudo. Gostaríamos de ter um parceiro, montar uma cozinha própria. Pois há necessidade de trazer fogareiro ou, como eu faço, cozinhar os alimentos na minha casa mesmo e trazer pra cá nos dias de sopão — diz o presidente da Casa do Evangelho, Rafael Dourado.
Tocada 100% por meio de doações, o projeto tem servido de inspiração, segundo o empresário Jorge Hernandes, também voluntário. Com o celular em mãos, ele corre inúmeras trocas de mensagens até mostrar a prova:
"Quando vir a Pelotas, vem ver o que estamos fazendo, distribuindo roupa e cesta básica", escreve um amigo que buscou no Pão de Irmão Pra Irmão o impulso para entrar na corrente do bem.
O grupo se reúne um domingo do mês na sede da biblioteca comunitária da Ilha Grande dos Marinheiros. A estrutura simples tem em destaque a marcação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), pois está condenado à demolição para a operação da nova ponte do Guaíba.
— Teremos de procurar outra sede. Mas seguiremos — afirma Chelkanoff.
No próximo dia 18, uma macarronada deve servir 400 marmitas de cerca de 700g cada — medida para alimentar duas pessoas. Além de alimentos, os voluntários precisam de ao menos R$ 1,5 mil para cada refeição coletiva. No momento, apenas 20% do montante foi alcançado para domingo.
Para ajudar
- Doações de qualquer valor em conta do Banco do Brasil (banco 001)
- Agência: 0330, dígito 1.
- Conta 23.803-1.
- Centro Espiritual Dr. Adolph Fritz
- CNPJ 25.060.834/0001-13