Semanas depois de retroescavadeiras movimentarem a esquina da Avenida Ipiranga com a Rua Silva Só, transformando em escombros o Ginásio da Brigada Militar, os trabalhos de demolição do prédio foram finalmente concluídos no fim de semana. Para quem transita pouco por ali, é como se o prédio nunca tivesse existido: por detrás do cercamento de arame, a área lembra um terreno baldio como tantos outros espelhados pela Capital. Já quem se acostumou a vê-lo diariamente logo percebeu a diferença.
— Ficou mais aberto, mais bonito. Antes eu abria a porta e dava de cara com aquele paredão. Tomara que não venham com outro — sorri a psicopedagoga Cristina Scherer, 54 anos, que trabalha em um edifício na esquina das ruas Silva Só e Felipe de Oliveira, na diagonal do prédio demolido.
Moradora há quase duas décadas do prédio onde Cristina trabalha, uma mulher que identificou-se apenas como Rose compartilha da impressão de que, sem a construção, o aspecto da via melhorou. Ainda especula sobre o que deve vir a ser construído no local.
— O barulho incomodava, mas alguém tinha de fazer alguma coisa ali. Agora dizem que vão construir prédios, né? — questiona.
A trilha sonora da demolição marcou a rotina dos moradores e trabalhadores do entorno por mais de um mês. Como os trabalhos foram executados aos poucos, os equipamentos voltaram ao local diversas vezes, sempre aos finais de semana.
Sem a carcaça do ginásio, destelhado por um vendaval ocorrido em outubro de 2017, a esquina ficou mais limpa e iluminada — não há, afinal, mais nenhuma construção para fazer sombra no passeio. Também trouxe à tona a imagem de pontos "escondidos", como a torre do Corpo de Bombeiros. Ao mesmo tempo, a retirada do edifício emblemático do cruzamento tem exigido mais atenção dos condutores.
— Para entrar na Silva Só pela Ipiranga cheguei a passar reto. Perdi a referência. Mas acho que ficou bem melhor assim. Tem até uma paisagem que não dava para ver antes — opina Nicholas Rosa, 26 anos, proprietário de um centro automotivo na Rua Silva Só.
Meses depois do destelhamento, o governo estadual decidiu que iria demolir o centro esportivo e leiloar o terreno, avaliado em R$ 41 milhões, junto à Escola dos Bombeiros. Mas o Ministério do Trabalho suspendeu a demolição, que ficou paralisada por um longo período, e o leilão convocado pelo Estado não teve interessados. O terreno foi então oferecido em permuta a Verdi Sistemas Construtivos como contrapartida pela construção de um presídio em Sapucaia do Sul — a empresa receberá a posse definitiva do terreno depois da conclusão da casa prisional. Ainda não se sabe o que será erguido no local.