As duas dezenas de passageiros que embarcaram em um ônibus da Linha Turismo na tarde desta sexta-feira (13) para percorrer um roteiro especial inspirado no filme Legalidade — que narra como Leonel Brizola reagiu à tentativa de golpe militar em 1961 — contaram com um guia especial.
O próprio diretor da produção, Zeca Brito, embarcou de última hora e ajudou a orientar parte do passeio em Porto Alegre: explicou detalhes do Palácio Piratini e do Paço Municipal e contextualizou informações para o público.
Sob o som ambiente do Hino da Legalidade, a viagem ao passado começou às 14h, no Largo Zumbi dos Palmares. O setor de Turismo da prefeitura havia solicitado a presença de alguém ligado à produção do filme para acompanhar o roteiro e, para surpresa geral, quem apareceu foi o próprio diretor. O ônibus fez o percurso tradicional por vias como Osvaldo Aranha, Ramiro Barcelos, Ipiranga, Goethe e Cristóvão Colombo até o Centro Histórico.
Duas paradas foram programadas para reviver o célebre 1961: o Palácio Piratini, onde Brizola reagiu à ameaça de golpe, e o Paço Municipal, cujos porões serviram de locação para o longa-metragem. Brito logo tomou a palavra e relacionou aspectos artísticos e históricos da sede do governo gaúcho com a produção do filme.
— Usamos a imagem desse painel de Aldo Locatelli (pintura onde aparecem as ruínas das Missões) para fazer uma transição (no filme) até São Miguel das Missões. Mas chama a atenção a ausência de negros nesse painel que conta a formação do Estado — explicou o diretor, apontando para a parede.
Um dos pontos altos do percurso foi a visita ao porão do Piratini onde Brizola discursou em defesa da democracia.
Diante da pequena sala que reproduz o cenário de 58 anos atrás, reuniram-se jovens interessados em conhecer melhor essa passagem, como o economista Vinicius Sartori, 30 anos, e testemunhas dos acontecimentos como o também economista João Luiz dos Santos Moreira, 69 anos.
— Eu quis vir para ter um melhor contexto antes de assistir ao filme. Foi muito interessante ver a sala da rádio, fechada, hermética, que simboliza bem aquele momento — contou Sartori.
Quase septuagenário, Moreira relembrou da infância ao percorrer os pontos principais do movimento comandado por Brizola.
— Vim porque vivi essa história ainda criança. Lembro da movimentação dos aviões e das tropas — afirmou Moreira, que também integra o Conselho Municipal de Turismo da Capital.
Tânia Rangel, 71 anos, chegou a pedir licença do trabalho para recordar os fatos que marcaram sua adolescência:
— Lembro do meu pai acompanhando tudo pelo rádio e pelo jornal. Estava bastante ansiosa para fazer o passeio e ver o filme.
A viagem única, que custou R$ 30 e durou pouco mais de duas horas e meia, se encerrou na Casa de Cultura Mario Quintana, onde os passageiros puderam assistir a Legalidade com 50% de desconto.
— Esse passeio tinha a missão de contar uma história em que a cidade e sua população foram protagonistas. Os palácios também detêm uma narrativa histórica e têm importância para a formação humanística e histórica das pessoas. Por isso são um patrimônio do povo — concluiu Zeca Brito.