Um dos rostos mais conhecidos da dramaturgia gaúcha nas últimas décadas, Leonardo Machado morreu às 23h35min desta sexta-feira (28), aos 42 anos. Desde 2017, ele lutava contra um câncer de fígado. O ator estava internado no Hospital Moinhos de Vento.
O velório correrá neste sábado (29) na Sala Álvaro Moreyra, em Porto Alegre, das 10h às 17h. O corpo do ator será cremado em uma cerimônia privada no Crematório Metropolitano às 18h30min.
A Sala Alvaro Moreyra foi escolhida por ter sido o palco do último espetáculo apresentado pelo artista. No ano passado, ele encenou a peça Fala do Silêncio, vencedora do prêmio Açorianos pela trilha sonora.
Vencedor do Kikito de melhor ator no Festival de Gramado de 2009, como protagonista do drama político Em Teu Nome, de Paulo Nascimento, Leo, como era chamado por amigos e colegas, projetou-se nacionalmente com o prêmio e a performance como um jovem militante de esquerda obrigado a viver no exílio durante a ditadura militar no Brasil. Na sequência, veio o convite para trabalhar em produções da Globo, como Viver a Vida e Malhação e a série Na Forma da Lei (2010). Mas foi no Rio Grande do Sul que dedicou-se de forma intensa no cinema, no teatro e na TV.
— Vivendo fora do Estado, a gente continua com a cabeça aqui. Tu te sentes meio despatriado. Eu me sentia um estrangeiro vivendo no Rio. Não era nem um cidadão carioca, nem era mais gaúcho. Tu acabas ficando sem identidade. A maioria dos meus amigos nesses lugares onde morei era do Rio Grande do Sul. Aí tu te dá conta dessa situação, de que não consegue viver longe. A saudade foi decisiva para o meu retorno. Me dei conta de que o centro do mercado é o centro do país, mas a minha qualidade de vida aqui é completamente diferente. Prefiro morar aqui e trabalhar lá. Fiquei praticamente um ano trabalhando no Rio de Janeiro. Mas mantive a minha base aqui em Porto Alegre. Voltei, e agora não pretendo sair daqui nunca mais — disse em entrevista a ZH em 2011.
Antes de começar a carreira de ator, Leo cumpriu uma jornada itinerante pelo Brasil. Ao 14 anos, foi viver no Mato Grosso, onde seu pai, dono de uma loja de material de construção, havia comprado uma fazenda. Por lá aprendeu as lidas do campo. Voltou ao Estado com 18 anos, alistou-se no Exército – mas acabou "sobrando" e, apesar de gremista, atuou como goleiro nas categorias de base do Internacional. Aos 21, passou temporadas no Rio e em São Paulo – a família acabou fixando residência em Bagé, e Leo tomou gosto pela criação de cavalos.
Ao se fixar na Capital, Leo trabalhou como modelo e, após participar de um oficina de teatro com o ator Zé Adão Barbosa, apaixonou-se pelo arte de representar.
— A gente fez um texto do Verissimo sobre um casal, mas eram 10 atores representando o casal. E a minha cena foi muito boa. O público adorou. Foi por isso que eu continuei — contou a ZH, em 2009.
A partir do fim dos anos 1990, Leo trabalhou em ritmo acelerado até o fim da vida.
Em agosto passado, Leo foi mais uma vez mestre de cerimônias do Festival de Gramado. Agora está em cartaz nos cinemas no longa-metragem Yoñlu. E deixou concluído trabalhos que devem estrear nos próximos meses, como Legalidade, filme no qual interpreta o líder político Leonel Brizola.
Este ano, Leo foi visto nas telas em produções como Teu Mundo Não Cabe nos meus Olhos e A Superfície da Sombra, também filmes dirigidos por Paulo Nascimento, seu amigo e parceiro profissional mais frequente.
Shakespeare era um dos autores preferidos de Leo no teatro. Com o grupo Cia Rústica participou, entre 2004 e 2008, das montagens das peças Macbeth, Sonho de Uma Noite de Verão e A Megera Domada. Leo morreu antes de ver concretizado seu roteiro para Tchekespeare, série inspirada no universo do dramaturgo inglês contemplada com recursos de editais de produção, a ser dirigida por sua mulher, Ane Siderman.