Boa parte dos cachorros abrigados junto à Unidade de Saúde Animal Victória (Usav), no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, carrega marcas do que sofreu até chegar ali. A Xuxa não mexe as patinhas traseiras em razão de um atropelamento, enquanto o Treme-Treme ganhou esse nome em razão das sequelas de cinomose, já tratada. Outros foram vítimas de maus-tratos, abandono ou precisaram deixar os donos por resultado de processos judiciais.
Os bichinhos agora enfrentam um novo desafio: a espera por um humano que esteja disposto a lhes dar um lar. De janeiro a agosto deste ano, o programa Me Adota?, da Diretoria Geral de Direitos Animais (DGDA) da prefeitura de Porto Alegre, viabilizou 102 adoções de cães e gatos. Mas ainda há cerca de 70 cães no aguardo. A maior parte deles, já tem mais idade — hoje, não há filhotes para adoção no local.
— Por mais que não sejam cachorros de "capa de revista", eles têm o mesmo ou até mesmo mais amor para dar. Em função de toda a história de vida deles, existe todo um sentimento de gratidão — afirma a coordenadora do programa Me Adota?, a médica veterinária Juliana Herpich.
Manejador de animais no local desde 2007, Alex Martinkowski Bergue, 45 anos, é testemunha. Dois dos seus três cachorros e um gato ele adotou ali.
— Em vez de gastar dinheiro comprando animal de raça, as pessoas deviam adotar. Muitas vezes os vira-latas são melhores.
O Pula-Pula hoje vive em Oslo, capital da Noruega, com sua nova família. Mesmo sem uma perna, cego de um olho, encantou Débora Cardoso Schein que, em novembro de 2017, buscava um amigo para seu outro cão, o Ozzy.
— Quando vimos a foto no álbum do Me Adota? percebemos que não tinha outra opção. Seria ele o escolhido — afirma.
Para a viagem, meses depois, resolveram todos os trâmites burocráticos necessários para que nada atrapalhasse a mudança.
— Agradecemos do fundo do coração por existir esse trabalho e o que fazem pelos animais. Se não fosse assim, não teríamos o Rick Allen, este é o nome dele agora, em nossas vidas. Juntos, ele o Ozzy, são a nossa família — garante.
O cãozinho também se adaptou ao frio de Oslo, gosta de passear, rolar na neve. Anda de ônibus e metrô.
— Ele tem sequelas, mas está saudável dentro do possível. As falhas de pelo sumiram, ele respira melhor e come alimentação natural que eu cozinho — explica.
Todos os animais disponíveis para adoção no local passaram por avaliação veterinária na Usav (e, se preciso, por tratamento), além de terem sido vacinados, desverminados, castrados e microchipados. A prefeitura ainda assegura atendimento gratuito vitalício. Quem quiser adotar pode dirigir-se à Usav, na Estrada Bérico José Bernardes, 3489, das 9h às 12h e das 13h30 às 17h, de segunda a sexta-feira para conhecê-los. A equipe fará uma breve entrevista com o adotante, para encontrar o animal que mais se encaixa no estilo de vida da família. O futuro tutor deve apresentar documento de identidade e comprovante de endereço.
A Smams disponibiliza um álbum com fotos e dados dos animais disponíveis na página dos Direitos Animais no Facebook e no Instagram.
Conheça alguns dos animais à espera de um lar
Xuxa
É uma das mais populares entre os estagiários da unidade. A origem do nome, supõe Juliana, é em razão da cor loira e das "botinhas" _ precisa que sejam trocados diariamente os curativos das patinhas traseiras. Eles são necessários para que ela não lesione as patas ao arrastá-las _ ficaram paralisadas após um atropelamento. É uma das moradoras mais antigas do abrigo: chegou em 2014.
Treme -Treme
Está desde 2015 na unidade. Ele enfrentou a Cinomose (uma doença altamente contagiosa provocada por um vírus). Recebeu o devido tratamento e se recuperou, mas ficou com sequelas, que originaram seu nome.
Taz
Levado à unidade após o resultado de um processo judicial, foi batizado em homenagem ao personagem do desenho Looney Tunes quando fez uma leve baguncinha na Unidade _ ele tentou roer a porta do canil. A coordenadora do Me Adota? ressalta que ele se relaciona muito bem com outros cachorros. Na verdade, estava até um pouco acuado antes de ganhar uma colega de canil, a Amarela, quando ganhou mais confiança.
Marley
Esse "labra-lata" foi batizado por Juliana pela semelhança com o cão do best seller Marley & Eu. Foi recolhido na Zona Norte, e é super animado. Passou por um tratamento quimioterápico para conter um tumor e está desde filhote na unidade. Tem cerca de um ano.
Toni
Enquanto posava para as lentes do fotógrafo de GaúchaZH, não parava de balançar o rabo. Há quem diga, na unidade, que é a cara do Tramp, o cão protagonista do desenho A Dama e o Vagabundo. É irmão do Taz: também chegou ali após um processo judicial.
Lua
A Lua chegou à unidade junto com a Sol: eram duas filhotes abandonadas. Enquanto sua parceira foi adotada, ela segue esperando um lar. Na verdade, um segundo lar: chegou a ficar cinco meses na casa de um adotante, mas foi devolvida. É definida como dócil e ativa pelos funcionários.