Nove meninas da periferia se preparam para um baile de debutantes promovido pelo Bloco da Trinca. Mais do que os detalhes que envolvem a festa – como cabelo, maquiagem e vestido –, as meninas têm aprendido noções de cidadania e autoestima nos meses que antecedem o grande dia.
Desde julho, as jovens já participaram de quatro workshops sobre empoderamento, discriminação, primeiro emprego, sexualidade, gravidez na adolescência e violência. Neste domingo, no penúltimo encontro antes da festa, que ocorre em 5 de outubro, no Tênis Clube Teresópolis, foi a vez da oficina de dança e valsa.
As discussões levantadas nos workshops têm como objetivo trazer conhecimentos que elas possam levar para além da data do baile:
– Elas receberam uma orientação completa. Dicas de como se maquiar para uma entrevista de emprego, qual a postura que devem ter, como devem estar atentas para identificar situações de abuso – explica Tailane Pedroso, diretora do departamento feminino do Bloco da Trinca.
Formado por componentes de baterias de outras escolas de samba, especialmente da Bambas da Orgia, o grupo de amigos compôs um bloco de Carnaval em 1984 e, desde então, promove festas e bailes. Esta é a primeira vez que a comemoração envolve debutantes. As famílias das meninas demonstraram interesse pelas redes sociais, e um grupo de nove meninas foi formado. As debutantes são da Restinga, Morro da Cruz, Partenon, Agronomia, Passo das Pedras e de Alvorada.
Para cada uma delas, o baile representa um desafio diferente. Stefany Beatriz Lima França, 15 anos, conta que a maior dificuldade é caminhar _ e dançar _ de salto alto, principalmente por estar habituada a andar de tênis. Neste domingo, elas ensaiaram os passos de uma dança que irão apresentar e da valsa. Também teve teste de cabelo e maquiagem.
Amizade que surgiu do encontro
Os compromissos em comum criaram um laço de amizade entre as meninas, que não se conheciam até entrarem para o projeto:
– De cara nos demos muito bem e estamos bem entrosadas. Compartilhamos emoções de um dos dias mais felizes das nossas vidas – afirma Victória Ribeiro, 16 anos, da Restinga.
A jovem afirma que o aumento da autoestima foi o maior ganho que o projeto lhe trouxe até agora.
– Sem se gostar, a gente não consegue fazer nada – ensina.
Alessandra Pedroso, também da diretoria feminina do Bloco da Trinca, explica que, ao longo das oficinas, as meninas aprenderam a serem mais espontâneas, a perder a timidez e a controlar o nervosismo em público:
– Nossa ideia era mostrar um outro mundo para elas. O projeto não quer ser apenas o glamour da festa, mas o elo dela com diferentes áreas.
Diretor do bloco, Turi Silva conta que é gratificante perceber a evolução das meninas desde o começo do projeto:
– No dia da prova dos desfiles, foi lindo ver a emoção delas com aquela roupa.
As jovens não terão nenhum custo com o baile, que está sendo todo organizado por meio de doações.