A escolha da B3 — antiga Bovespa —, no centro histórico de São Paulo, para o leilão da primeira parceria público-privada (PPP) celebrada pela prefeitura de Porto Alegre foi estratégica. A intenção era atrair investimentos de grupos de todo o Brasil e dar mais credibilidade aos atores envolvidos.
Se trouxe dinheiro e credibilidade, não é possível afirmar categoricamente. Pompa, sem dúvida. Organizado por uma empresa parceira do BNDES, com custos a serem bancados a posteriori pelo próprio vencedor do pregão, o evento impressionou vereadores governistas e secretários, quase todos novatos na experiência.
A prefeitura tinha sua marca multiplicada nos telões no saguão sóbrio e refinado da bolsa, cercado por logos de empresas multinacionais e órgãos de governos que já negociaram no espaço.
O leilão se dá em pouco mais de uma hora, e é comandado pelo leiloeiro a partir de uma espécie de púlpito, de onde ele anuncia as regras ao microfone e convoca representantes dos consórcios envolvidos, os corretores, para ocupar um espaço reservado com pequenas mesas altas e redondas, em volta dos quais os corretores discutirão os lances. Depois, vem o primeiro momento fixo no imaginário coletivo de um leilão: a campainha anunciando o início do processo.
No caso da iluminação pública de Porto Alegre, a primeira etapa foi, uma vez verificada a inviolabilidade dos envelopes, publicar as oito ofertas iniciais de cada consórcio no telão. A prefeitura pretendia gastar, no máximo, R$ 3,2 milhões mensais no contrato com a parceira da iniciativa privada. Duas estavam abaixo da casa dos R$ 2 milhões mensais, aproximadamente 40% inferiores ao que o Executivo estava disposto a desembolsar. Seriam esses dois consórcios — IP Sul e POA Luz — os protagonistas da manhã.
Da parte mais divertida para a plateia e mais tensa para os participantes, o leilão “a viva voz”, participam apenas os consórcios que tenham feito propostas iniciais até 20% superiores à melhor oferta da primeira fase. Por esse ponto de corte, quatro consórcios foram imediatamente desclassificados do pregão. Começam, então, as rodadas para ver quais dos quatro participantes restantes conseguem baixar ainda mais o valor. Ou seja, o clássico “quem dá mais?”, na verdade, é “quem dá menos?”. Quem ofertar serviços pela menor cifra, firma a PPP.
No caso de Porto Alegre, foram quatro rodadas de lances até que a IP Sul, consórcio capitaneado por uma empresa de energia catarinense, ofertasse R$ 1.745.000, e a POA Luz, que havia ofertado R$ 1.795.000 na rodada anterior, hesitasse por mais de dois minutos em oferecer nova proposta. Os corretores ainda protestaram, mas o leiloeiro foi irredutível:
— Dei mais de dois minutos e perguntei mais de uma vez se desejavam oferecer proposta. O leilão está encerrado.
A diferença em relação ao imaginário popular é que o martelo não é batido no momento em que o leilão é encerrado, mas, sim, quase 20 minutos depois. Antes, um sorridente Nelson Marchezan sobe ao púlpito e faz um discurso de múltiplos agradecimentos. Aí sim, vem o tão aguardado gesto. O prefeito bate o martelinho já cercado de secretários, vereadores e outros tantos que o acompanhavam.
*O repórter viajou a convite da Houer, empresa organizadora do leilão em parceria com o BNDES