Enquanto famílias aguardam pela oportunidade de suas crianças frequentarem uma creche pública, obras de escolas de Educação Infantil paradas proliferam pela Capital e Região Metropolitana. Duas delas estão em Porto Alegre e uma em Guaíba, e somam-se às 20 obras paradas reveladas pelo DG em reportagem em maio.
As duas edificações inacabadas da Capital tiveram as obras paradas em 2015, com 60% do trabalho feito. A construção interrompida em Guaíba parou com 25% da obra pronta, em novembro de 2018. Juntas, as três obras, que deveriam atender a 511 crianças, já receberam investimentos de R$ 2.722.898,96.
Na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Jardim Leopoldina, na Capital, a empreiteira desistiu da obra pois a Secretaria Municipal de Educação (Smed) não aprovou um aditivo no contrato. Já na Emei Raul Cauduro, a empresa deixou de cumprir prazos e houve rescisão.
Em ambos os casos, a Smed afirma que tenta renegociar os convênios junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para garantir recursos para a conclusão das obras. Sem isso, não é possível dar previsão de retorno dos trabalhos.
Onde: Rua Maria Feoli Guaragna, no Bairro Mario Quintana, na Capital
Estágio da obra: 60% concluída
Quando parou: 2015
Capacidade de atendimento: 166 crianças
Valor já investido: R$ 1.172.493,11
Origem dos recursos: R$ 1.454.196,69 do FNDE e R$ 307.651,43 da prefeitura
Sem recursos
Em Guaíba, as duas empresas envolvidas na construção da Emei do bairro Noli abandonaram a obra, uma delas por atraso nos pagamentos. Segundo a prefeitura, não há previsão de continuidade, pois o FNDE emitiu uma determinação informando que não irá aportar recursos para obras que estejam menos de 50% prontas.
O Ministério da Educação trabalha junto ao Ministério da Economia para conseguir mais recursos para o programa.
Onde: Rua Irmã Teresilda Steffen, no Bairro Jardim Leopoldina, na Capital
Estágio da obra: 60% concluída
Quando parou: 2015
Capacidade de atendimento: 120 crianças
Valor já investido: R$ 698.208,32
Origem dos recursos: R$ 1,5 milhão do FNDE
Famílias indignadas
A recicladora Alessandra da Silva Cardoso, 29 anos, vive em frente à obra parada da Emei Raul Cauduro, do bairro Mario Quintana, e não se conforma. Tem dois filhos: Isabele, sete meses, e Vitória, dois anos, com quem divide esforços com a família para conseguir cuidar e trabalhar. A cunhada ajuda nos cuidados com a mais velha enquanto Alessandra faz a seleção de materiais recicláveis, ao mesmo tempo em que cuida a caçula:
— É um desgosto ver essa obra, uma vergonha e um desrespeito com a gente.
Segundo a Smed, a obra parou em 2015 com R$ 1,1 milhão já investidos. Alessandra já foi orientada a tentar uma vaga por meio de ação judicial aberta pela Defensoria Pública:
— Acabei desistindo de ir atrás porque disseram que seria demorado e difícil de conseguir. Seria uma honra ter uma creche na frente de casa, só atravessar a rua.
Onde: Rua C, bairro Noli, em Guaíba
Estágio da obra: 25% concluída
Quando parou: novembro de 2018
Capacidade de atendimento: 225 vagas
Valor já investido: R$ 852.197,53
Origem dos recursos: R$ 1.492.930,41 do FNDE
“É revoltante”, diz avó
A 39 quilômetros dali, no bairro Noli, em Guaíba, a aposentada Ana Lopes Dias, 64 anos, enfrenta problema parecido. Ela precisa cuidar do neto Luca, 11 meses, para que o filho e a nora possam trabalhar. Os cuidados com o bebê ficam divididos entre ela, a nora e a avó materna.
Enquanto isso, a meia quadra de casa, a obra de uma creche que deveria atender a 225 crianças, na qual já foram investidos R$ 852 mil, está abandonada:
— É revoltante e triste ver esta situação. É horrível, é um dinheiro indo ralo abaixo — desabafa Ana.