Carente de métricas sobre a qualidade do ensino na rede pública municipal desde 2015, a prefeitura de Porto Alegre realizou pela primeira vez desde o início do atual governo uma avaliação própria de suas escolas. Alunos do 5º ano (3.169) e do 9º ano (1.824) de 49 colégios de Ensino Fundamental foram avaliados em testes de língua portuguesa e matemática. A Secretaria Municipal de Educação (Smed) evita dourar a pílula ao avaliar os resultados, divulgados no dia 11 a diretores da rede municipal.
— Generalizando, é um resultado ruim. Houve uma pequena melhora do 5º ano em relação aos dados de 2015 (de prova nacional), mas não se trata de um índice significativo. Continuamos observando dificuldades de leitura e de cruzar informações para resolver problemas — avalia o secretário Adriano Naves de Britto.
Chama a atenção uma queda de desempenho do 5º para o 9º ano, especialmente em matemática. Em língua portuguesa, os alunos do 5º ano acertaram em média 53,05% da prova, e os do 9º ano, 48%. Em matemática, os alunos do 5º ano tiveram 54,62% de acertos, enquanto os do 9º ano somaram 38% de respostas corretas.
Segundo a Smed, uma série de fatores podem ter atuado para a queda de desempenho no último ano do Ensino Fundamental. Além da prova ser naturalmente mais exigente, o 9º é um dos anos mais afetados pelo alto número de faltas e o que reúne a maior "distorção idade-série", ou seja, com estudantes mais velhos que por vezes já sofreram reprovações ao longo da vida escolar. Uma das medidas para combater o problema foi o aumento da carga-horária das duas disciplinas de três para quatro aulas semanais.
Embora o resultado tenha apontado o fraco desempenho dos alunos, a existência de um diagnóstico detalhado sobre cada escola — e dentro dela, sobre cada aluno que realizou o teste — é celebrado pela prefeitura. Cada escola recebeu um pequeno dossiê sobre o seu desempenho, com as competências a melhorar, e o teste será repetido no final do ano.
Tendo em mãos o percentual de acertos em cada uma das questões aplicadas, a Smed pretende reforçar os conteúdos mais frágeis. Um olhar atento sobre esses índices também apontou a dificuldade dos estudantes em compreender o enunciado dos problemas.
— Em visita a uma das escolas que já está trabalhando em cima dos resultados da prova, um professor de matemática me contou que diversos alunos erraram uma questão por não compreenderem o termo "cujo" no enunciado. Isso vem de um histórico de leitura muito pobre, outro ponto que temos de melhorar com urgência nos anos iniciais — aponta Naves de Brito.
Smed vê impacto de alfabetização precária
A dificuldade na compreensão dos enunciados vem também da precariedade nos anos de alfabetização, na visão da secretaria. Como as duas séries iniciais têm as crianças mais jovens e não há reprovação, o número de faltas é alto. No 5º ano, quando a boa compreensão dos enunciados é fundamental para resolver questões complexas, a deficiência na alfabetização cobra seu preço.
— Além de bolar estratégias para conscientizar famílias de que colocar as crianças na escola não é uma opção, mas uma obrigação, no ano que vem a avaliação se estenderá a todas as séries, sempre no início e no final do ano. Também vamos testar o impacto das aulas de reforço no turno inverso, algo que modificamos em 2018 e deve começar a surgir efeito — declara o secretário.
Em razão de uma greve à época da realização das provas, a rede municipal de Porto Alegre ficou sem dados suficientes para a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2017. Como o teste é bienal, a Capital não recebia métricas de qualidade de ensino desde 2015. Na ocasião, os 4º e 5º anos receberam nota 4,6 — abaixo da meta de 5,0 — e os 8º e 9º anos receberam nota 3,8 — abaixo da meta de 4,5.