É em clima conturbado que o Diretório Municipal do PP debate na noite desta terça-feira (9) o futuro da relação entre o partido e o governo Nelson Marchezan. Antes de levar o assunto ao Plenário Ana Terra, às 19h30min, esta segunda-feira (8) foi de discussões em quóruns menores. Primeiramente, entre os quatro vereadores da bancada: Cassiá Carpes, João Carlos Nedel, Monica Leal e Ricardo Gomes e, depois, dos vereadores junto à Executiva Municipal do partido.
Na noite de sexta-feira (5), dois dias depois de oficializada a saída do vice-prefeito Gustavo Paim, do PP, da secretaria de Relações Institucionais, houve mais um gesto que o partido considerou uma afronta. Uma carta redigida pelo presidente municipal do PSDB, Moisés Barboza, e endereçada ao presidente municipal do PP, Nedel, cobrando uma posição. Segundo lideranças do PP, o maior incômodo se deu pelo tom da carta perguntando se o partido era "governo ou oposição". Barboza confirma o envio, mas prefere não revelar o teor do documento:
— Como foi endereçada ao PP, acho que seria indelicado tornar público antes de o partido responder. É um documento de três páginas, redigido com o conhecimento do prefeito Marchezan — declara o vereador tucano e ex-líder do governo.
Responder ou não à carta foi um dos assuntos debatidos na reunião da Executiva nesta segunda. O vice-prefeito, Paim, está longe do conflito: viajou para um evento em Roterdã, na Holanda. A relação entre governo e PP se complicou no dia 28 de junho, quando o partido teve 15 cargos de confiança (CCs) exonerados e soube apenas pelo Diário Oficial. A medida foi encarada como uma retaliação à postura da bancada no projeto de mudança do IPTU — dos quatro vereadores, apenas Nedel votou pela aprovação. Monica, atual presidente da Câmara, exercia o cargo de prefeita, enquanto Cassiá e Gomes foram contrários. Os 15 cargos correspondem aproximadamente a 20% dos CCs que o partido mantinha no governo.
— Esse é um cálculo complicado. Porque o meu número de indicações políticas, por exemplo, é zero. Mas foram demitidas algumas pessoas que eu contratei quando fui secretário (de Desenvolvimento Econômico, de janeiro a agosto de 2017) — exemplifica o vereador Ricardo Gomes.
Diante do argumento da prefeitura de que as demissões ocorreram em razão de "avaliação técnica", o PP respondeu protocolando um pedido de informações sobre o banco de talentos da prefeitura. Deseja saber quem avaliou esses servidores e os motivos supostamente técnicos que levaram às demissões.
Aí foi a vez do Executivo considerar o gesto desrespeitoso. Para voltar a se reunir com representantes do PP, Marchezan fez duas exigências: a retirada do pedido de informações. Se isso ocorrer, deseja escolher também os representantes do partido que receberia: os presidentes municipal e estadual do partido — João Carlos Nedel e Celso Bernardi — e o vice-prefeito, Paim. O partido não aceitou as condições do prefeito.
Dentro da bancada, Nedel defende a manutenção das relações com o governo, enquanto Monica e Gomes são os mais insatisfeitos. A maior reclamação é de não fazer parte das decisões de governo, o que tende a se agravar com a saída de Paim do secretariado. Cassiá tem sido, na visão de colegas de partido, "um contemporizador".
No horizonte, pesam ainda as eleições de 2020, em que o PP deve lançar nome próprio, se desvinculando de vez de Marchezan. O MDB seria um substituto natural tanto nas votações da Câmara quanto, conforme o desejo dos tucanos, na composição da chapa majoritária à reeleição.