Na região central de Alvorada, na Região Metropolitana, estão os principais prédios públicos da cidade, como a prefeitura, o Ministério Público e um batalhão da Brigada Militar. Há ainda um prédio novinho em folha, praticamente pronto. A parede do edifício estampa em letras cromadas o título de "Câmara Municipal", mas os vereadores não trabalham lá.
O local está sendo construído desde 2004. Nestes 15 anos, entre idas e vindas, a câmara municipal já destinou R$ 805.222,82 para erguer sua nova sede. Em valores corrigidos pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) — mais comumente utilizado para o cálculo da inflação — o custo da obra já chega a R$ 1.081.414,43. Os dados são Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS).
Esse valor ainda não leva em conta o que foi orçado pela Câmara de Vereadores para este ano. Segundo os números disponíveis no portal de dados abertos do TCE-RS, a Lei de Diretrizes Orçamentárias da Câmara deste ano reservou R$ 500 mil para a "Construção do Novo Prédio" — título pelo qual o gasto está descrito nas despesas do Legislativo para 2019.
O maior gasto, em valores atualizados pela inflação, foi em 2018, quando os vereadores destinaram R$ 302.036,51 para a construção. A estrutura do prédio não teve valores destinados para continuidade das obras em cinco de seus 15 anos de existência, o que indica que a obra ficou parada — o maior período sem repasses foi entre 2009 e 2012, quando nenhum real foi pago pela Câmara para custear a construção.
Enquanto isso, atualmente, os parlamentares ocupam um espaço no prédio da prefeitura, próximo da obra.
Um fato curioso é que, mesmo estando em obras, o local foi inaugurado pela prefeitura e por vereadores no final do ano passado. Na ocasião, membros do executivo e do legislativo estiveram na obra para um "corte simbólico da faixa inaugural". Segundo texto publicado pela prefeitura depois do ato, a futura casa do vereadores "conta com novas e modernas instalações que servirão de base para os debates e sessões da casa".
Na ocasião, autoridades municipais ainda discursaram e posaram diante um painel com a foto do prédio e um texto sobreposto onde se lia: "Inauguração da nova sede da Câmara Municipal de Alvorada, 20 de dezembro de 2018". Entretanto, até hoje, quase quatro meses depois da cerimônia, os vereadores seguem trabalhando nas mesmas dependências do Paço Municipal.
Promessa de inauguração em junho
Segundo o atual presidente da Câmara, vereador Juliano Marinho, a inauguração foi um ato da presidência anterior, do qual ele não pode falar.
— Para mim, a inauguração foi estranha, pois ainda temos algumas pendências. Dois problemas são maiores, que já estão sendo resolvidos. O primeiro é a construção de uma subestação de energia. E o segundo e a adaptação do fosso do elevador, para receber o modelo que compramos — pontua o vereador.
Juliano promete que até junho os parlamentares da cidade se mudam para o local. Para o vereador, a demora na construção do prédio se deve ao fato de toda a obra ser custeada somente com o orçamento próprio da Câmara Municipal, além dos anos em que a estrutura ficou sem receber investimentos.
Dois problemas são maiores, que já estão sendo resolvidos. O primeiro é a construção de uma subestação de energia. E o segundo e a adaptação do fosso do elevador, para receber o modelo que compramos
JULIANO MARINHO
Presidente da Câmara
— O importante é que essa mudança vai gerar economia. A prefeitura vai transferir secretarias que estão em prédios alugados para este espaço que ocupamos atualmente — cita Juliano.
Moradores criticam demora
Quem vive na cidade da Região Metropolitana e costuma circular pela região não entende por que a construção do nova Câmara Municipal se estende há tantos anos. Para o comerciante José Carlos Pereira, 63 anos, a situação é resultado da burocracia.
— Ficar 15 anos construindo um prédio que importante na estrutura pública não tem cabimento. Enquanto isso, os vereadores estão lá espremidos em um andar da prefeitura — critica ele.
Para alguns, a falta de informação sobre o andamento das obras também é um fato que incomoda. Enquanto espia por entre a grade para conferir como está ficando o prédio, a dona de casa Iracema dos Santos, 76 anos, relata sua insatisfação:
— Um prédio desse tamanho vazio enquanto as ruas da cidade estão viradas em buracos, é triste.
O gesseiro aposentado João dos Santos, 72 anos, nem lembra quando as obras começaram.
— Era um vai e volta de obras, acho que por isso está demorando tanto. Pelo menos, agora parece estar perto do fim — acredita João.