Os arbustos do jardim do Departamento de Água e Esgoto (Dmae), no Moinhos de Vento, esconderam cerca de cem ovos de brinquedo na manhã deste sábado (20), véspera da Páscoa. Quando encontrados, davam direito a ovos de chocolate, símbolos da data cristã. A atividade, para crianças vinculadas a projetos sociais, foi promovida pela Prefeitura de Porto Alegre.
A brincadeira contou com as presenças do prefeito, Nelson Marchezan, e do padre Lucas Matheus Mendes, da Igreja Nossa Senhora das Dores. O objetivo era ensinar aos mais jovens o sentido da Páscoa, momento em que, na Bíblia cristã, celebra-se a ressurreição de Jesus Cristo.
— Quem sabe o que é a Páscoa? — perguntou o padre Lucas, momentos antes de os pequenos serem instigados a procurar pelos ovos.
— Nascimento de Jesus Cristo — responderam algumas vozes.
Jovens entre 5 e 17 anos vinculados a projetos como a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), a ONG Pequena Casa da Criança e abrigos como a Aldeia Infantil SOS foram convidadas a participar da atividade. Demonstraram que, se a data é sinônimo de ressurreição e mesmo esperança, nutrem sentimentos capazes de acalentar o próximo.
— Eu não consegui encontrar o ovo, mas ele encontrou para mim — disse um menino de 14 anos, apontando para o colega que mora junto com ele na Aldeia, no bairro Sarandi.
O amigo havia encontrado três ovos de brinquedo. Acabou cedendo dois para quem não conseguiu. Desse jeito, ninguém ficou sem chocolate. Apesar de não terem família com quem comemorar a data, os colegas demostraram alegria com a distribuição das guloseimas.
— Eu tô muito triste por Jesus ter morrido e muito feliz pela Páscoa — justificou o sortudo de 13 anos, que acabou evitando que os colegas saíssem de mão abanando da caça aos ovos de Páscoa.
A mesma generosidade inspirou um menino de 8 anos, vinculado à Pequena Casa da Criança, na Vila Maria da Conceição. Pequeno em tamanho, teve facilidade em encontrar os ovos de plástico que davam direito ao doce. Depois de encontrar o seu, determinou-se a seguir na busca para alegrar as outras crianças.
— Agora estou tentando ajudar os colegas. É bom. Não é legal deixar os outros sem nada, só olhando — ensinou o pequeno, segurando seus ovos de Páscoa.
Os mais velhos demonstraram menos empolgação. Dois irmãos acolhidos pelo projeto Ação Social de Fé, também no Sarandi, estavam reticentes com a atividade: não gostaram nada do discurso religioso que deu a largada para a caça aos ovos, por exemplo.
— Eles querem impor que as crianças sejam católicas ou evangélicas — argumentou a garota de 16 anos, vestindo uma camiseta com as palavras em inglês "Do not stay quiet".
O irmão de 17 anos concordou.
— A gente curte a história de Jesus, a gente acha legal. Mas não é uma coisa que tem que ser imposta — criticou o rapaz.
A ação encerrou ao meio-dia. Para a chefe de gabinete da Fasc, Suzana Pellegrino, a caça aos ovos foi importante para que as crianças, muitas delas sem pais e mães, não passassem a Páscoa em branco.
— Essas crianças que estão aqui não ficaram com suas famílias, nem com padrinhos. Estar em um lugar bonito de Porto Alegre, com várias outras crianças... Pode ver, eles estão faceiros.