Impulsionada pela fé e pela emoção, uma multidão palmilhou os 1,5 mil metros lomba acima que separam a Igreja São José do Murialdo do Morro da Cruz, acompanhando a tradicional encenação da Paixão de Cristo, nesta sexta-feira (19), na Capital. A celebração religiosa, que dramatiza o calvário de Jesus Cristo, completou 60 anos em 2019.
O clima agradável atraiu centenas de fiéis. Desde o início da tarde, eles ocuparam o tempo para a missa da Mensagem da Paixão e, depois, toda a rua em frente para assistir ao espetáculo. Com financiamento da Lei de Incentivo à Cultura e Sistema Pró-Cultura-RS e apoio da prefeitura, o evento foi completo este ano, após as dificuldades financeiras que levaram a paróquia a promover somente a subida do morro, no ano passado.
Desta vez, os patrocínios e subvenções permitiram a retomada de toda a dramaturgia da última semana de vida de Cristo, com 35 atores profissionais e cerca de 100 pessoas da própria comunidade local. Para o vereador Aldacir Oliboni, que há 39 anos interpreta Jesus, o apoio é fundamental.
— No ano passado, a gente fez só a subida do morro. Não fica completo. O espetáculo mexe com as pessoas, nos mostra toda a força da fé e da religiosidade. É lindo a gente ver a emoção de alguém que agradece uma graça alcançada ou faz algum pedido. Isso nos fortalece e nos gratifica — afirma.
Criada em 1959 pelo padre Ângelo Costa, a Paixão de Cristo do Morro da Cruz começa com a prisão de Barrabás e a chegada de Jesus a Jerusalém, no Domingo de Ramos. A peça passa pelos 40 dias de retiro de Cristo no deserto, as tentações do Diabo, a última ceia, a traição de Judas e a negação de Pedro até o julgamento popular no qual Pôncio Pilatos lavou as mãos. Essas esquetes compõem o primeiro ato, todo encenado em frente à Igreja. A partir dali, Jesus recebe a cruz e começa a via crúcis até a crucificação.
Aglomerada em meio à multidão, a técnica em enfermagem Luciane Preusch procurava o melhor lugar para assistir ao espetáculo. Nascida e criada no bairro, ela não perde uma encenação da Paixão de Cristo. Ao lado do marido Maicon Prusch e do filho Renan, de 12 anos, ela se emocionava com o calvário do Messias.
— É a nossa fé representada ali — resumiu.
Os momentos de maior emoção são reservados à passagem de Cristo pelas ruas. Escoltado por legionários romanos e com o ritmo marcado pelo rufar dos tambores, Jesus encontra a mãe, cai três vezes, tem o rosto limpo no Santo Sudário e, esgualepado, chega enfim ao topo do morro. A plateia xinga os romanos que pregam Cristo na cruz e se emociona com seu passamento, vaiando o personagem que interpreta a Morte. Ao final, uma catarse coletiva se espraia com a cena da ressurreição, emoldurada pela linda paisagem do pôr do sol do Guaíba.
— É tão lindo e tão sofrido. Mexe com a gente — diz a dona de casa Lenira Martins, moradora da região.