Já se passaram 1.738 dias desde que Porto Alegre recebeu o primeiro jogo da Copa do Mundo de 2014. Desde então, são quatro anos e nove meses de espera para conseguir dar fim às intermináveis intervenções de infraestrutura viária.
Os 17 projetos foram identificados, em 2010, como o legado que a Copa deixaria para a capital gaúcha, segundo o então prefeito José Fortunati. Somente seis obras, contudo, foram concluídas a tempo de receber as cinco partidas do Mundial, disputadas em 15 dias de junho de 2014 — uma sétima se juntou à relação ainda no ano da Copa.
Passado todo esse tempo, 10 projetos seguem inconclusos. Desses, dois sequer começaram, três estão pela metade e cinco se aproximam da finalização dos trabalhos.
Falta de dinheiro, projetos mal planejados e executados, necessidade de se fazer reassentamentos de famílias e desapropriações de terrenos particulares, além de setor construtivo afetado pela crise financeira do país, foram e são alguns dos problemas enfrentados pela prefeitura de Porto Alegre para desenvolver tudo de uma só vez. O custo de tantos erros estão sendo pagos. E com juros.
Com os 10 projetos inacabados, a prefeitura pretendia gastar R$ 351,27 milhões em 2013. Esse valor subiu para R$ 395,08 milhões seis anos depois. O aumento foi de R$ 43,8 milhões, o que corresponde a 12% do que foi previsto. Os dados exclusivos foram obtidos por GaúchaZH junto à Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão (SMPG).
Segundo o secretário adjunto Daniel Rigon, a atual administração preferiu, mesmo com recurso em caixa desde que firmou empréstimo com o Banrisul em fevereiro de 2018, fazer um pente-fino na situação de cada obra antes de voltar aos trabalhos. A intenção foi escrutinar cada empreendimento a fim de obter prazos e custos factíveis e informações sobre os contratos que voltassem a ser confiáveis. Foram descobertos pagamentos pendentes desde 2013 e processos que não estavam sequer digitalizados.
— O caso da Ceará é emblemático. Após muito tempo praticamente parada, a empresa estava descapitalizada para tocar a obra sem que houvesse pagamento de atrasados. Mesmo com dinheiro em caixa, somente em dezembro passado destravamos o aditivo do contrato e agora, em 28 de fevereiro, a Caixa autorizou um pagamento de aproximadamente R$ 3 milhões — exemplifica o secretário adjunto, que hoje mantém no gabinete sacos plásticos fixados na parede para guardar anotações e papeladas referentes a cada uma das obras.
Como ocorrido na Ceará, em 92 ocasiões, até agora, a prefeitura precisou alterar o prazo ou o serviço que pretendia executar nas obras. Em parte delas, serviços deixaram de ser feitos, o que, de certa forma, barateou os custos. Além disso, em 115 ocasiões, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) notificou a prefeitura sobre gastos e projetos das obras.
A próxima obra a ser entregue
Quem passa pela Avenida Protásio Alves talvez nem perceba, mas a troca de pavimento de 7,5 quilômetros do corredor de ônibus ainda não está concluída. A obra entre as ruas Sarmento Leite (trecho da Osvaldo Aranha) e Saturnino de Brito começou em março de 2012 e deveria ter ficado pronta em setembro de 2013. Essa duplicação motivou 16 aditivos de prazo e de alteração de serviço. A construção está 95% finalizada, segundo a SMPG. Falta ainda instalar algumas barreiras de concreto ao longo do trecho.
A mais demorada
A duplicação de 5,5 quilômetros da Avenida Tronco é considerada uma das mais complexas. Desde que a obra começou, em março de 2012, 1,3 mil famílias mudaram de endereço. Ainda faltam 195 para essa parte do processo ser concluída. A duplicação também motivou 16 aditivos de prazo e de alteração de serviço. A obra está 37% finalizada, e a expectativa da prefeitura é que os trabalhos sejam parcialmente concluídos em julho de 2022. Antes da Copa do Catar, portanto. Isso nos trechos que vão da Rua Gabriel Fialho à Avenida Icaraí. Os primeiros dois trechos, da Avenida Aparício Borges à Rua Gabriel Fialho, não têm previsão de conclusão.