Atividades em contêineres sustentáveis de alta tecnologia são algumas das propostas inusitadas da prefeitura de Porto Alegre para o turno inverso ao das aulas na rede municipal. O Instituto Besouro, entidade por trás da ideia, é uma das seis novas organizações da sociedade civil para oferecer atividades nas escolas públicas do município a partir de abril.
Pioneiros no Brasil, os contêineres são chamados de "makers spaces". Debaixo de um teto verde (revestidos com vegetação), são espaços climatizados para 25 estudantes trabalharem simultaneamente com ferramentas de alta tecnologia como projetores para aulas em vídeo, computadores e impressoras 3D. Ali, os estudantes cumprirão carga horária de três horas por dia de segunda à sexta-feira trabalhando em projetos envolvendo música, artes cênicas, pintura, escultura, arquitetura, literatura e cinema.
Já a caminho de Porto Alegre, os contêineres serão instalados em duas escolas de Ensino Fundamental, a Mario Quintana, no bairro Restinga, e a Presidente Vargas, no Passo das Pedras. Outras duas escolas não contarão com contêineres, mas terão salas internas transformadas em makers spaces: a Dolores Alcaraz Caldas, também na Restinga, e a Saint Hilaire, na Lomba do Pinheiro. A estimativa da prefeitura é de atender 200 estudantes, mas o número pode variar conforme demanda e interesse das escolas. A inauguração deverá ser na semana de aniversário do município (26 de março).
Presente em Buenos Aires, São Luís (MA), São Paulo e Porto Alegre, o Instituto Besouro é uma agência especializada em empreendedorismo em comunidades de baixa renda. A aposta em investir na Educação Básica vem de um problema percebido pelo presidente da entidade, o administrador Vinicius Mendes Lima.
— Seja para empreender ou para ingressar em uma empresa, percebemos que o mercado hoje exige uma formação que passa por ferramentas que geralmente o estudante de escola pública não tem acesso. Nossa ideia é que esses makers spaces façam uma conexão entre as disciplinas escolares e as profissões do futuro — declara Lima, ele mesmo egresso de uma escola municipal pública de Porto Alegre, a Vila Monte Cristo, no bairro Vila Nova.
Por meio de edital lançado em novembro passado, a prefeitura credenciou seis novas organizações da sociedade civil para se unirem às 14 que, em 2018, ficaram responsáveis por oferecer atividades nos turnos inversos das escolas municipais, em suas sedes ou nas próprias escolas. Desde o início do governo Nelson Marchezan, a Secretaria Municipal de Educação tem buscado parcerias com organizações para suprir as atividades do turno inverso sem a necessidade de utilizar horas-aula do corpo letivo.
Além do Instituto Besouro, são novidades em 2019 a Fundação Iberê Camargo, a Associação Junior Achievement, Associação Amigos da Casa de Música, Núcleo Comunitário e Cultural Belém Novo e a Associação Cultural Vila Flores. Todas se comprometem a preencher uma carga horária de três horas diárias cinco vezes por semana com atividades que passem por quatro eixos de ensino: letramento, numeramento, iniciação científica e educação do sensível (artes e esportes). O número de estudantes e as escolas atendidas varia caso a caso. A Fundação Iberê Camargo, por exemplo, atuará nas escolas Leocádia Felizardo Prestes, no bairro Vila Nova, e Lidovino Fanton, no bairro Restinga.
— No nosso caso, oferecemos um projeto que abrange sucatários transformados em salas de artes, criação de espaços expositivos e uma valorização das bibliotecas como espaços mais vivos de ensino e valorização da leitura. Além, claro, de visitas ao museu para estimular a observação das crianças, ajudá-las a formar repertório visual, pois ninguém cria do nada — adianta Lêda Fonseca, coordenadora do projeto na fundação.
Com as novas parceiras, a Smed aumentou em cerca de 700 e se aproximou da meta de ofertar 8 mil vagas no turno inverso com atividades complementares ao currículo em 2019. Se cumpridas as expectativas da prefeitura, serão 7.380 estudantes contemplados _ número ainda tímido frente aos cerca de 40 mil estudantes da rede municipal. Para cada estudante atendido, a prefeitura paga valores de até R$ 275,03 e tem acesso a compensações via Fundeb, fundo para desenvolvimento da Educação Básica que premia municípios que promovam ensino em tempo integral.
— O desafio, agora, passa a ser estimular e atrair os estudantes para essas atividades, já que elas não são obrigatórias — avalia o secretário municipal de Educação, Adriano Naves de Brito.
Começa nesta quarta-feira (13) o ano letivo para a maior parte das escolas municipais de Porto Alegre (salvo as que tiveram o início adiado em razão de paralisações em 2018). As atividades do turno inverso, todavia, têm previsão de começo ao longo do mês de abril.