Mais de 11 mil pessoas aguardam por uma consulta com oftalmologista pelo SUS em Porto Alegre. Aqueles que foram encaminhados para plástica ocular, por exemplo, chegam a esperar 412 dias. A alta demanda e a dependência por equipamentos específicos são explicações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para tamanha demora.
O paciente que depende do SUS precisa primeiro buscar atendimento com um clínico geral na Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência. Se for apontada a necessidade, é encaminhado para o especialista. E é neste momento que o processo trava.
– A oftalmologia é uma área com atenção primária e que os postos de saúde têm menor resolutividade, porque demanda exames específicos. Boa parte das pessoas tem algum problema de visão, precisa fazer uso de óculos, por exemplo, e esse atendimento depende de conhecimento apropriado – explica o secretário de Saúde, Pablo Stürmer.
As UBSs não têm o oftalmologista à disposição, tampouco os aparelhos necessários para realização de exames. A solução é aguardar pelo chamado dos locais conveniados à prefeitura para consulta de entrada. A consulta de entrada nada mais é que o atendimento que irá analisar o quadro clínico geral do paciente adulto e pediátrico. Por isso, é a que apresenta maior demanda. Atualmente, são 9.720 pessoas na fila de espera.
– Todos têm que passar por um exame mais completo de início, mas, apesar disso, essa é uma fila que tem diminuído desde agosto do ano passado, quando a gente conseguiu um equilíbrio na oferta de consultas e demanda – completou o secretário.
Parcerias
Apesar de não estar entre as que mais apresenta pacientes na fila, a consulta de retinopatia diabética chega a demorar 276 dias para ocorrer. Em dezembro, segundo dados da prefeitura, foram oferecidas 43 primeiras consultas. Para plástica ocular, que tem 988 pessoas em espera, foram 19.
– É claro que não estamos parados, estamos buscando parcerias, pois os hospitais já atuam em plena capacidade. Ainda temos as unidades móveis e estamos negociando uma parceria com o Sesc para ampliar a oferta – detalhou Stürmer.
De acordo com o secretário, existe também o TeleOftalmo, que se iniciou em 2017 e tem perspectivas de ampliação. Desde o início deste ano, houve aumento de 10% nas consultas por vídeo.
Na expectativa
A aposentada Mary da Conceição Vasconcelos, 74 anos, que já teve catarata e precisou operar os dois olhos, tenta consulta com um oftalmologista há três meses. Mary fez o primeiro encaminhamento no Posto Modelo e foi encaminhada para consulta com especialista no Hospital da Restinga, onde reside. Mas ainda não tem previsão de quando será atendida.
– Minha visão está turva e não troco as lentes dos meus óculos há mais de cinco anos. Infelizmente, dependo do SUS e não tenho como pagar particular – lamenta a idosa.
Já a auxiliar de cozinha Joici Ferreira, 47 anos, aguardou cerca de três meses pela consulta com oftalmologista. Foi primeiro até a UBS da Restinga, onde mora, consultou com o clínico e foi encaminhada para o especialista. O agendamento ficou para 14 de janeiro, sendo, depois, remarcado para 28 de janeiro.
Com a receita dos óculos nas mãos pôde, finalmente, comprar as lentes, que não eram revisadas havia três anos.
Rede de atendimento
A prefeitura de Porto Alegre conta com 19 oftalmologistas, do serviço próprio, que ficam à disposição na urgência e emergência do HPS e Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas. Os demais são contratualizados, mas a prefeitura não informou a quantidade.
A rede de apoio conta com oito locais: Santa Casa, Conceição, Clínicas, Banco de Olhos, São Lucas, Cristo Redentor, Vila Nova e HPS.
As maiores demandas
Oftalmologia geral adulto
- Pacientes em fila de espera: 7.470
- Ofertas de primeiras consultas em dezembro: 1.350
- Novas solicitações em dezembro: 1.215
- Tempo médio de espera para pacientes com alta prioridade: 66 dias
- Tempo médio de espera geral: 142 dias
Oftalmologia pediátrica
- Pacientes em fila de espera: 2.250
- Ofertas de primeiras consultas em dezembro: 155
- Novas solicitações em dezembro: 274
- Tempo médio de espera para pacientes com alta prioridade: 102 dias
- Tempo médio de espera geral: 179 dias
Oftalmologia plástica ocular
- Pacientes em fila de espera: 988
- Ofertas de primeiras consultas em dezembro: 19
- Novas solicitações em dezembro: 47
- Tempo médio de espera para pacientes com alta prioridade: 251 dias
- Tempo médio de espera geral: 412 dias
Oftalmologia retinopatia diabética
- Pacientes em fila de espera: 367
- Ofertas de primeiras consultas em dezembro: 43
- Novas solicitações em dezembro: 56
- Tempo médio de espera para pacientes com alta prioridade: 253 dias
- Tempo médio de espera geral: 276 dias
Telessaúde é uma das alternativas
Os médicos brasileiros estão autorizados, desde 3 de fevereiro, a realizarem consultas online, assim como telecirurgias e telediagnóstico, entre outras formas de atendimento médico à distância. É o que estabelece a Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 2.227/18, elaborada após inúmeros debates com especialistas. No entanto, a entidade abriu um prazo para que os Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), profissionais e entidades ligadas à área façam apontamentos que impactem em melhorias na resolução.
No Estado já existe o TelessaúdeRS, projeto vinculado ao programa de pós-graduação em epidemiologia da UFRGS, em parceria com Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde, prefeituras e hospitais. As solicitações de consultas e exames que estão na fila de espera são avaliadas por uma equipe de médicos. Quando o problema pode ser resolvido na própria unidade de saúde, é enviado um aviso para o médico assistente (responsável por cuidar do paciente) para discutir aquele caso com um médico especialista da equipe.
Pelo TelessaúdeRS, o médico pode realizar a discussão de qualquer problema de saúde com o paciente pelo 0800, telefone disponível só para profissionais de saúde.