Organizada contra o tempo a menos de dois meses da virada do ano, a retomada do Réveillon na orla do Guaíba, primeiro grande evento no local depois da revitalização, foi bem sucedida em quase todos os âmbitos. A festa que reuniu cerca de 140 mil pessoas, segundo estimativa da prefeitura, contou com uma estrutura de segurança que garantiu a tranquilidade do grande público, com cerca de 130 policiais e o apoio da Guarda Municipal, atrações musicais e show de fogos de artifício que agradou a gregos e troianos: manteve o espetáculo pirotécnico sem o ruído ensurdecedor que perturba crianças, idosos e animais domésticos.
O evento, no entanto, não ficou imune a controvérsias. A começar pela negociação com um dos patrocinadores, que recebeu autorização para colocar um banner na chaminé da Usina do Gasômetro, gerando polêmica nas redes sociais. Já que o local é tombado como patrimônio histórico, intervenções como essa exigiriam um pedido de autorização por parte da prefeitura ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), o que não ocorreu. A faixa foi retirada nesta quarta-feira (2), como previsto antes da colocação.
— Não foi um uso comercial, foi uma contrapartida. Como organizador do evento, posso garantir que as contrapartidas não tiveram nada de excepcional. Me dá orgulho saber que a Usina tenha ajudado a patrocinar o Réveillon da orla — afirmou o secretário Luciano Alabarse, acrescentando que as duas empresas patrocinadoras do evento podiam fazer uma proposta de contrapartida.
Outro ponto considerado negativo foi o rastro de lixo deixado pelo evento na manhã seguinte. A prefeitura recolheu mais de duas toneladas e 500 sacos de lixo, boa parte deles descartados bem longe dos tonéis e contêineres instalados no local. Para o secretário de Serviços Urbanos, Ramiro Rosário, faltou "conscientização da população sobre o descarte correto do lixo e sobre o papel de cada um no cuidado e zelo pela cidade". A ação dos garis após o término do evento, que durou quatro horas, já estava prevista pela prefeitura.
Veja como funcionaram os principais pontos do evento:
Segurança
A segurança do evento ficou a cargo da Brigada Militar, mas também contou com a participação da Guarda Municipal. Segundo o tenente-coronel Rodrigo Mohr Picon, comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), cerca de 130 policiais, entre integrantes da Força Nacional, do Batalhão de Operações Especiais (BOE), da cavalaria e 10 policiais motorizados participaram do evento. Além dos policiais que circularam entre o público e nas imediações, dois pedestais e o mirante serviram como pontos de observação e monitoramento. Segundo o comandante do 9º BPM, não houve registro de roubo e furto durante o evento. Duas brigas tiveram de ser contidas depois da 1h. O policiamento seguiu até as 5h30min.
Trânsito
O trânsito ficou bloqueado no entorno das 16h do dia 31 de dezembro até as 5h50min do dia 1º de janeiro. Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), 35 agentes atuaram no evento, orientando os motoristas. Foram atendidas seis ocorrências de estacionamento irregular e dois veículos foram recolhidos por estacionar em fila dupla. A EPTC reconhece que pode ter havido mais casos de estacionamento irregular — o comportamento dos motoristas gerou reclamações de moradores do entorno. Segundo o órgão, no entanto, o principal objetivo não era aplicar multas, mas garantir a circulação e a segurança de motoristas e pedestres. A movimentação foi considerada tranquila.
Lixo
Chamou a atenção, na manhã seguinte à festa, a quantidade de lixo espalhada pelo gramado da Orla Moacyr Scliar. Trinta funcionários do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) e seis funcionários do parque, que é adotado pela Uber, recolheram duas toneladas e 500 sacos de lixo do local, em uma operação realizada entre as 8h e o meio-dia. Para o Réveillon, foram colocados 25 tonéis e 30 contêineres, além das lixeiras fixas do espaço — boa parte do lixo não estava sequer perto dessas estruturas. Segundo a Secretaria de Serviços Urbanos, não foram realizados recolhimentos de lixo durante o evento por questões de logística, já que o grande volume de público dificultaria a circulação dos garis.
Patrocínio
Com uma organização articulada às pressas, a prefeitura contou com bem menos patrocinadores do que a estimativa inicial, de 10 cotas, para realizar o Réveillon na orla. Duas empresas foram as principais contribuintes: Casa Maria e Marsala Alimentos bancaram o show de fogos de artifícios e as atrações musicais da festa. Em troca, puderam escolher contrapartidas. A Marsala Alimentos teve balões com sua logomarca circulando entre o público e a Casa Maria escolheu colocar um banner na chaminé da Usina do Gasômetro, o que gerou reações controversas. Outro patrocinador – a Impacto Vento Norte – e apoiadores – Sindilojas e Federação Afroumbandista – contribuíram, respectivamente, com a infraestrutura de som e luz, os banheiros químicos e a montagem do Recanto Místico. Todos os contratos foram feitos diretamente pelos patrocinadores, sem a participação da prefeitura. O custo total do evento foi estimado em R$ 400 mil.
Alimentação e sanitários
Muita gente levou coolers e alguns se arriscaram até a montar mesa para ceia. Mas quem foi de mãos vazias não teve dificuldades para comprar alimentos e bebidas. Diversos food trucks foram instalados na Avenida Beira-Rio - como era uma área de menos aglomeração, o acesso fácil foi garantido. Como contrapartida, os food trucks bancaram a colocação de 20 banheiros químicos, que não tinham longas filas e estavam em condições satisfatórias (havia outros sanitários espalhados pelo trecho).
— O movimento foi excepcional. As vendas refletem uns três finais de semana em um único dia — comemora Neno Gutterres, presidente da Associação de Gastronomia Itinerante do RS (Agirs).