O progressivo encolhimento das moradias em Porto Alegre, que ajuda a impulsionar o aluguel de boxes de self storage em razão da falta de espaço, pode ser explicado por recentes tendências econômicas e culturais que motivam a oferta de imóveis menores, com menos quartos e vagas de garagem.
A metragem média das unidades em prédios e condomínios caiu de 72 para 67 metros quadrados nos últimos cinco anos na Região Metropolitana, enquanto a proporção de ofertas com três ou quatro dormitórios diminuiu de 30% para 11%. A possibilidade de utilizar vagas de garagem para guardar algum material também é cada vez menor: em 2013, todos os lançamentos ofereciam pelo menos uma vaga, mas no ano passado 19% deles não tinham nenhuma vaga, conforme pesquisa imobiliária realizada pelo Grupo Zap.
Vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Juliano Melnick afirma que essa tendência — verificada também em outras metrópoles do país — se intensificou em meados da década passada, quando o acesso mais fácil a crédito e o programa Minha Casa, Minha Vida favoreceram a oferta de casas e apartamentos menores no mercado. Isso contribuiu para diminuir a média geral.
O aquecimento do setor entre 2007 e 2012 também levou a um aumento no custo da construção civil e a uma valorização do metro quadrado acima da inflação. Com preços mais salgados, é natural que tenham surgido uma demanda e uma oferta maiores por imóveis mais compactos e acessíveis.
Além das razões econômicas, novos padrões socioculturais também estão por trás do corte na metragem das casas em regiões como Porto Alegre.
— Há uma nova maneira de viver que favorece unidades com menos espaço. Os condomínios ganharam muita infraestrutura, muita área externa, o que permite fazer apartamentos menores — diz Melnick.
O dirigente do Sinduscon complementa:
— As novas gerações são mais despojadas e desapegadas, mais voltadas para o compartilhamento de espaços como no coliving, por exemplo. A área privativa vem diminuindo, enquanto aumentam as áreas de integração e lazer. Esses jovens de hoje não sonham tanto em ter uma casa grande, cara e difícil de manter, mas se contentam com um espaço menor desde que possam viajar mais, aproveitar mais a vida.