Por trás de cada porta de box nas unidades de autoarmazenamento de Porto Alegre há um universo particular. Como cada locatário pode estocar o que bem entender nesses espaços (com exceção de itens ilegais ou de alto risco), as unidades de self storage escondem de arquivos mortos de escritório a pranchas de surfe, de móveis a obras de arte.
— Aqui temos de tudo, de uma senhora que guarda fotos antigas da família a um pai que estocou pertences da filha que faleceu, muitas pranchas de surfe e material de escritório — conta Jeffrey Korczyk, norte-americano casado com uma brasileira que abriu a Organiz três anos atrás na Avenida Carlos Gomes.
Em um dos 168 boxes da empresa, a pensionista Verônica Chiden, 64 anos, praticamente some no meio de pilhas de revistas, uma mesa de madeira que pertenceu ao avô, um lampião que foi do pai, uma prancha que é da filha, um cavalete de pintura dela mesma e muito, muito mais coisas.
— Morei três anos e meio em São Paulo e me mudei para um apartamento menor em Porto Alegre. Faltou espaço para tudo — explica Verônica.
Também são comuns a guarda temporária de mobílias inteiras de famílias em processo de mudança, coleções particulares, equipamentos esportivos ou sazonais, como decorações natalinas. Empresas costumam armazenar documentos, arquivos e estoques de produtos.
— Há pessoas que vão morar um tempo fora do Estado ou do país e deixam a mobília conosco até retornarem — conta o diretor da Guarde Flex, Thiago Posselt.
Outro hábito típico dos EUA, inspirado na garage sale (venda de itens usados em garagens), também ganha força na Capital. A Organiz realizou uma venda de materiais estocados que não interessavam mais aos seus clientes, em junho, e reuniu cerca de 200 interessados. Praticamente tudo foi vendido em um sábado.
— O interesse foi muito grande. Neste ano, queremos fazer de novo — conta Jeffrey Korczyk.
Há um conjunto de itens, porém, que as empresas de autoarmazenamento costumam solicitar que não sejam guardados, como animais, materiais tóxicos, provenientes de atividade ilegal ou que demandem refrigeração, armas, entre outros. Mas, como cada locatário recebe uma chave e responde pelo transporte e organização de seus próprios bens, nem sempre é possível saber o que se esconde por trás de cada porta de box.