Um número cada vez maior de moradores de Porto Alegre está adotando uma prática consagrada nos Estados Unidos: alugam boxes para armazenar itens que não cabem em apartamentos cada vez menores e transformam espaços de alguns metros quadrados em uma extensão de casa.
As unidades de self storage, como são conhecidas, chegaram há uma década à cidade e hoje crescem a uma média anual superior a 10%, apesar da crise econômica. Segundo a Associação Brasileira de Self Storage (Asbrass), já há pelo menos 12 empresas do tipo em Porto Alegre. Nos EUA, movimentam um mercado equivalente ao da indústria cinematográfica, com faturamento de quase US$ 40 bilhões anuais.
Os espaços de autoarmazenamento geralmente têm grandes corredores onde se sucedem boxes cadeados de diferentes tamanhos — de um a mais de cem metros quadrados. Podem ser alugados por pessoas ou empresas com quase nenhuma burocracia, sem necessidade de fiador e sob contrato que pode ser interrompido a qualquer momento sem custo. O crescimento na procura por esse tipo de locação para armazenar itens pessoais, móveis, documentos e outros artigos pode ser explicado por essa facilidade em combinação com a crescente falta de espaço em casas e apartamentos.
Conforme uma pesquisa imobiliária do Grupo Zap, o tamanho médio dos novos imóveis na Grande Porto Alegre encolheu 7% nos últimos cinco anos, chegando a 67 metros quadrados em 2018. Como resultado, falta lugar para guardar móveis antigos, equipamentos esportivos, coleções, livros e toda sorte de quinquilharias. A saída para moradores como a tradutora Bárbara Zannotti, 43 anos, é buscar essa espécie de apêndice doméstico.
— Moro com a minha mãe. Ela pinta, eu já fiz cerâmica, temos muitos livros e material de faculdade. Só de pinturas, temos mais de 130 telas. Queremos mudar para um lugar maior, mas até lá alugamos um box — conta Bárbara.
É tanto material que precisaram optar por um espaço maior — passaram de um cubículo de oito para outro de 12 metros quadrados. Em razão da demanda, novas empresas de self storage se instalam na Capital, e as mais antigas ampliam o número de boxes para atender os interessados — que incluem escritórios com pilhas de documentos, lojas virtuais com necessidade de espaço para seus estoques e empresas variadas em busca de locação flexível e sem necessidade de pagamento de outras taxas como luz ou IPTU.
— Preferimos alugar um box para guardar roupas de coleções antigas e material de divulgação e liberar uma sala do nosso escritório para operações comerciais — conta o representante comercial da Billabong Rodrigo Silva, 40 anos.
Pioneira do setor em Porto Alegre, a Guarda Bem em 10 anos passou de uma para três unidades e ampliou a quantidade de boxes de 300 para mais de 700 a fim de dar conta da procura. Mesmo empresas que surgiram há apenas dois anos, como a Guarde Flex, já precisaram aumentar a área disponível.
— Tínhamos 74 boxes internos e 40 externos, e agora criamos mais 93 espaços internos — afirma o diretor da Guarde Flex, Thiago Posselt.
Segundo a Asbrass, hoje há pelo menos 148 empresas do tipo no Brasil (a maior parte em São Paulo), mas ainda há muito espaço para crescer.
— Nos Estados Unidos, um a cada 10 americanos aluga box em self storage. Muitas pessoas ainda não sabem direito do que se trata no Brasil, mas há um crescimento muito forte — diz o presidente da Asbrass, Rafael Cohen.
O que é self storage
Locação de espaços de tamanhos variados para armazenagem de itens pessoais, móveis, arquivos ou estoques comerciais, por exemplo, entre outros materiais. Muito comum nos EUA, onde existe há décadas, vem crescendo no Brasil nos últimos 10 anos.
Como funciona
A locação pode ser feita por pessoas físicas ou jurídicas com pouca burocracia. Bastam um documento de identidade e um comprovante de residência (contrato social, no caso de empresa). O cliente recebe uma chave e fica responsável por movimentar seus itens e organizá-los. O contrato costuma ter base mensal, podendo ser cancelado a qualquer momento sem ônus.
Custos
O custo é muito flexível. Depende do tamanho do box a ser alugado, da localização e da infraestrutura oferecida pela empresa, além de promoções para casos de locações mais prolongadas. O valor do metro quadrado costuma partir de R$ 30 a R$ 50, mas pode variar bastante. As empresas também costumam solicitar que o material a ser depositado seja segurado. Algumas oferecem convênio com seguradoras.
Onde encontrar
A maior parte das empresas pode ser localizada na internet por meio de buscas por "self storage" e o nome da cidade. A maior concentração ainda ocorre nas grandes capitais.