Para aliviar as altas temperaturas do verão, nada melhor do que a água. Quem não tem piscina por perto, recorre aos pontos naturais. Seja ao longo do litoral ou em águas doces da Capital e do Interior, a intenção é conseguir um espaço para banhar-se.
Mas um alerta importante precisa ser feito. Mesmo em pontos onde, aparentemente, o banho é possível, é preciso estar atento aos avisos no local, além da presença ou não de salva-vidas.
A existência de placas – ou a falta delas – informando a condição de balneabilidade dos locais é um dos primeiros pontos que devem ser levados em conta.
Riscos para a saúde e de afogamentos
Banhar-se em locais impróprios representa risco à saúde. Quem explica é o coordenador do projeto Balneabilidade da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), André Milanez.
– Entrar em águas onde a presença de coliformes fecais ou da bactéria Escherichia coli for maior que o tolerável pode causar desde problemas intestinais até febre tifoide, por exemplo – alerta André, que também é engenheiro químico da Fepam.
Nesta temporada, o projeto Balneabilidade está monitorando 95 pontos em 44 municípios do Estado. As áreas de abrangência vão do Litoral Norte ao Sul, além de pontos no Interior. Porto Alegre não faz parte da ação, mas a cidade também monitora suas águas.
– Cada município faz a análise da água semanalmente nestes 95 pontos. Os relatórios são enviados à Fepam e, conforme as instruções de uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), apontamos os locais próprios ou não para banho – diz André.
Segundo a última atualização, desta sexta-feira, dos 95 pontos monitorados, 15 estão impróprios. Neles, além do risco à saúde, também não há presença de salva-vidas, o que pode transformar um banho despretensioso em uma tragédia.
– Quem entra em água onde não tem guarda-vidas está correndo risco de morte. Não é exagero, é perigo real – alerta o coronel Jeferson Ecco, do Corpo de Bombeiros Estadual (CBM-RS).
Mais salvamentos do que no ano passado
Nesta temporada, o Corpo de Bombeiros tem 215 postos de vigia no Litoral Norte. Destes, 207 possuem agentes fixos nas guaritas. Nos outros oito, são feitas patrulhas-volantes: os agentes circulam pelos pontos de quadriciclo e a pé.
– Focamos nos lugares mais frequentados pelos banhistas. Em pontos de menos fluxo, usamos as patrulhas – explica o coronel Jeferson.
Além do Litoral Norte, há salva-vidas no Interior, em locais como Santa Maria, na região da Lagoa dos Patos e no Laranjal, no sul do Estado. Até o dia 30 de dezembro, os bombeiros registraram 90 salvamentos em todo o Rio Grande do Sul, uma média de cinco por dia desde o início desta temporada. O número é 55% maior do que o registrado no mesmo período do verão passado.
Águas-vivas
Além dos cuidados comuns na hora de entrar na água (confira quadro na página ao lado), Jeferson alerta para a infestação de águas-vivas no Litoral Norte. Só nesta temporada, os registros de banhistas feridos ultrapassam
28,5 mil, de acordo com levantamento divulgado pela Operação Verão, do CBM, que contabiliza dados de 15 de dezembro de 2018 até 1º de janeiro.
– O ideal é passar vinagre ou água do mar na queimadura. Se a pessoa não for alérgica, a sensação de ardência alivia em menos de uma hora – explica o coronel.
Falta de sinalização deixa banhistas confusos
Na Capital, apenas dois locais são próprios para banho, as praias do Lami e as de Belém Novo, ambas na Zona Sul. De resto, todos os outros pontos banhados pelo Guaíba na cidade não se encontram em condições de receber banhistas. Porém, a falta de sinalização nos locais impróprios acaba confundindo alguns banhistas, que, desavisados, entram na água.
Na praia de Ipanema, a faixa de areia é limpa constantemente, segundo moradores. Neste ponto, a reportagem presenciou, na semana passada algumas pessoas se arriscando nas águas poluídas.
Depois de longos minutos imerso até o pescoço nas águas de Ipanema, o pescador Sabino Pinheiro, 65 anos, revela que tem costume de banhar-se no local. Mesmo sabendo que o ponto é impróprio para isso, ele acredita que não terá problemas nadando por ali.
– Às vezes, a gente pisa em algum lixo no fundo, principalmente garrafas. Mas, de resto, está ótimo. Mesmo assim, eu tomo banho depois de sair da água, por garantia – conta ele, bem-humorado.
Perto de onde Sabino tomava banho, o casal Matheus Silva, 21 anos, e Cássia Brionderlin, 23 anos, brincava com o filho, Vinicius, um ano e cinco meses. Sentados na margem, não sabiam da situação do local.
– Não tem nenhuma placa dizendo se pode ou não entrar na água – aponta Matheus.
Após ser informadas sobre as condições da água por lá, a família deixou o local.
Descuido
Morador de Ipanema desde que nasceu, o técnico metalúrgico aposentado Mauro Escobar, 59 anos, testemunha diariamente a consequência da desinformação das condições de banho da praia.
– Passo por aqui de bicicleta, e tem sempre gente na água. Eu sei que não é própria para banho porque moro aqui há tempos. Mas, quem chega, não vê nenhuma placa e já acha que pode entrar – conta Mauro.
Para o morador, o descarte de esgoto no Guaíba é um dos principais causadores do problema:
– Não há água que resista, fica cada vez pior. Tem dias em que o cheiro é insuportável também.
Cadê as placas?
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smams) informou, em nota, que as placas de alerta nos locais não balneáveis foram vandalizadas ao longo do ano.
A secretaria disse que os avisos estão sendo recolocados durante este verão. A pasta explicou que a instalação começou pelo trecho 1 da Orla Moacyr Scliar – a nova orla do Guaíba. Não foi dada previsão de colocação das placas em Ipanema e Guarujá, locais visitados pela reportagem e que estavam sem sinalização. Mas a Smams reforça que, por questões de saúde e segurança, é desaconselhado o banho em outros locais da orla de Porto Alegre, que não nos bairros Lami e Belém Novo.
Veranistas seguros no litoral norte do estado
Na beira da praia de Capão da Canoa, os filhos de Sandra Inês Scharnberg, Joana, quatro anos, e Joaquim, dois, brincavam em uma piscina improvisada com água do mar. A família de Vale Verde aproveitava o dia nublado, ontem, perto de uma guarita de guarda-vidas em função das crianças.
– Me sinto 100% segura – diz Sandra.
Sobre a qualidade da água, ela garante que está sempre atenta às pesquisas de balneabilidade.
– Vejo pelo noticiário – conta.
Cautela
Nem tão preocupada assim com a questão da água, a professora Deina Farenzena se diz mais cautelosa com a questão da presença de guarda-vidas:
– Não observo tanto a qualidade da água, fico mais preocupada com a segurança.
Moradora de Faxinal do Soturno, ela fala que está acostumada a utilizar os balneários da região e a observar a qualidade das águas por lá.
– Eu sei os problemas que as águas impróprias trazem, mas aqui não é a preocupação – conta ela.
Como o sinal de internet na praia é ruim, ela afirma que mal consegue acompanhar as notícias sobre balneabilidade no Litoral.
Dicas para um mergulho sem sustos
Tanto para o banho em água salgada quanto em água doce, o Corpo de Bombeiros tem dicas para evitar que o momento de lazer se transforme em preocupação. Confira!
/// Tome banho perto da margem.
/// Nunca ultrapasse o limite da água na altura da cintura, principalmente em locais de profundidade desconhecida. Oriente as crianças a fazer o mesmo.
/// Nunca tente atravessar de uma margem à outra, no caso de banho em rios ou lagos.
/// Em situações de afogamento, nade ou tente flutuar na direção da correnteza, buscando a margem.
/// Tome cuidado ao usar objetos flutuantes, que podem levar a áreas de profundidade desconhecida.
/// Nunca deixe as crianças sozinhas.
/// Sinalize as crianças com pulseiras de contato, para o caso de se perderem.
/// Evite brincadeiras de risco, como saltos. A queda pode causar lesões.
/// Evite o consumo exagerado de bebida alcoólica e de comidas pesadas antes nadar.