Passa pouco das 9h de um domingo de sol a pino e o cenário já está quase pronto. Com a ajuda dos amigos, o aposentado Marco Antônio Queiroz, 68 anos, ergue quatro quadras de beach tennis na orla de Imbé, em um ponto um pouco mais afastado do fervo do centro. Repete a cena todos os dias do veraneio: chega por volta das 8h30min e só arreda o pé quando a luz solar já não é mais suficiente.
— Meu negócio é agregar o pessoal e divulgar o esporte — justifica.
O “Rei da Praia”, como se autointitula aos risos, estufa o peito para dizer que, graças à função que criou há cinco anos, veranistas de outras praias, agora, frequentam as areias imbeenses:
— Tem gente que nem gosta de Imbé. Só vem pelo beach tennis.
E nem é preciso muito tempo para comprovar o porquê do título de majestade do entusiasta do esporte: aos poucos, dezenas de pessoas começam a se aglomerar no entorno das quadras, formando uma pequena fila de guarda-sóis. São praticantes da atividade e suas famílias que passam o dia aproveitando a junção.
É chimarrão de um que passa para outro, rapadura que é compartilhada entre a turma e as bolachinhas da Fabiana Oliveira (ou só Fabinha, como é conhecida) rolando soltas quando a fome aperta.
A moradora de Imbé é uma das que acompanham a paixão de Queiroz desde o começo. Ao lado do marido, Roosvelt Licoski, eles praticam o esporte há cinco anos e já ganharam até medalha de prata em um mundial amador.
— Meu marido começou e eu logo entrei — diz Fabinha. — Eu já jogava frescobol na praia, então tinha um pouco de conhecimento, embora seja diferente. Iniciei a prática e foi muito fácil. É muito bom, a turma aqui é maravilhosa, não tem parceria melhor.
Democracia é a palavra-chave
Jovem adulto, pode-se dizer, o beach tennis foi criado em 1987, na Itália. De lá para cá, tem conquistado milhares de adeptos mundo afora. Conforme a Confederação Brasileira de Tênis, estima-se em mais de meio milhão de praticantes em todos os continentes.
A modalidade é considerada fácil de aprender e tem essa característica agregadora, que permite reunir pessoas de diferentes idades, cidades e profissões na beira da praia.
— Quando eu jogava paddle e tênis, minha esposa nunca quis participar. Agora, com o beach, ela está praticando. O que a gente nota? A participação, principalmente, de famílias. Minha mulher só vai jogar se tem condições de levar a pequena de oito anos junto. E ela só vai se tiver as amiguinhas para brincar. E qual criança não gosta de brincar na areia? No nosso grupo tem gente com casa em Capão da Canoa, tem gente de Tramandaí que atravessa a ponte todos os dias, vem com a mulher e os filhos. Só hoje, já joguei com pessoas de quatro cidades diferentes — atesta o aposentado e professor de beach tennis Sergio Gassen, morador de Santa Cruz do Sul e veranista de Imbé.
Graças à tecnologia, juntar esse povo todo é uma tarefa fácil. Através dos grupos de WhatsApp, os cerca de cem participantes se informam sobre a situação das quadras, quem está na área e aqueles que estão por chegar. Também combinam, por vezes, idas à pizzaria, bares ou outras reuniões pós-areia.
Para praticar nas quadras montadas por Queiroz não tem mistério, basta chegar nas estruturas montadas perto da guarita 131 e se apresentar para o jogo. A participação é gratuita para jogadores eventuais.
— Comecei de brincadeira, montei uma quadra e vieram 20 pessoas. No segundo ano, fiz duas quadras e vieram 40. No terceiro, 80, e ano passado, mais de cem. Cada vez aumentando mais. Nunca quis cobrar, mas como venho todos os dias, criamos uma caixinha, só que não deu resultado. Então, o pessoal se mobilizou e criou taxa para ajudar na manutenção do equipamento. Agora, cobramos R$ 50 a temporada toda para quem joga com frequência. Não tenho intuito de ganhar dinheiro, quero vir aqui confraternizar — explica Queiroz.