A primeira reação de quem entra no ônibus em que trabalham Helmut Kubbe Júnior, 52 anos, e Cintia de Lima Klafke, 35, é de surpresa. Depois, não tem quem não deixe os problemas do dia a dia de lado e abra um sorriso. Funcionários da Carris, os dois passam o mês de dezembro vestidos de Papai Noel e Mamãe Noel para exercerem suas funções, de motorista e cobradora de ônibus, em um veículo adesivado para parecer com o trenó do Bom Velhinho.
Titular da linha Campus Ipiranga durante o ano, Helmut, morador de Canoas, roda por todas as outras linhas da empresa em dezembro. Ele vira o Papai Noel no ônibus há 20 anos e encarna o personagem: sorri, solta o seu “ho ho ho” para passageiros e para quem estiver nas paradas ao longo do trajeto, posa para fotos e ouve muitos pedidos.
– As crianças sempre pedem seus presentes. Às vezes, os adultos também. Tem quem peça para ganhar na Mega-Sena ou até um namorado (risos) – revela ele.
Cintia é Mamãe Noel há quatro anos. Ela conta que o convite surgiu por um hábito que ela tem desde que entrou na empresa, há sete anos:
– Em todas as datas comemorativas, eu decoro a minha roleta. Na Páscoa, no Dia da Criança, no Halloween. Adoro isso, e os passageiros também gostam. Eles elogiam, abrem um sorriso, agradecem.
Retorno
Entre os passageiros, a ação é só sucesso. A reportagem acompanhou, na semana passada, um trecho de uma viagem de Helmut e Cintia na linha T8. A telefonista Maria Luiza Abelo, 59 anos, moradora do bairro Bom Jesus, ficou surpresa ao dar de cara com a dupla quando pegou o ônibus após o trabalho. Com um sorriso de orelha a orelha, deu boa tarde, desejou Feliz Natal e muita saúde para os funcionários. Logo após, ao ser questionada sobre o assunto, ficou emocionada.
– Foi a primeira vez que peguei um ônibus com eles. Adoro esta época do ano. Isso aqui me encheu de alegria – contou.
Este retorno é justamente o que mais agrada Cintia:
– É uma linha normal de ônibus, a gente tem horário, pega trânsito. Mas o carinho das pessoas é gratificante.
Eliane Maria Machado, auxiliar de serviços gerais de 46 anos que mora no Partenon, fez várias fotos do Papai Noel enquanto voltava para casa.
– Eu achei isso lindo! Podia ter em mais linhas. A gente sai cansado do trabalho, entra aqui e vê esse espírito natalino. Não tem idade para acreditar no Papai Noel (risos) – afirmou.
História marcante de solidariedade
A iniciativa, é claro, deixa as crianças que andam no ônibus encantadas. São elas que costumam bater mais papo com o Papai Noel e fazer as mais diversas perguntas: “O senhor aqui no ônibus?”, “Mas cadê as renas?”, “Como o senhor consegue entregar presentes para tantas crianças no mesmo dia?”, “Já recebeu o desenho e o pedido que eu mandei na minha cartinha?”.
É com os pequenos, também, a lembrança que Helmut destaca como mais marcante desde que começou a trabalhar vestido de Papai Noel. Foi durante uma entrega de brinquedos para crianças carentes, ação também organizada pela empresa antes do Natal.
– Lembro que todos os pequenos queriam um dos brinquedos que levamos. Alguns queriam escolher. Mas uma só pediu uma caixa de bombons. Questionei porque ela não queria uma boneca, como suas amigas, e ela respondeu: “É que a caixa de bombons eu posso dividir com meus irmãos”. Isso me marcou demais. A vontade não só de ganhar, mas de dividir, mesmo numa situação como aquela – conta.