Até os anos 2000, videogame era apenas sinônimo de diversão infantil. Com a avalanche tecnológica na área de jogos virtuais, a brincadeira passou de fase, abrindo espaço para a profissionalização de adolescentes, jovens e adultos.
E quando há a combinação com o futebol, o negócio fica sério. Tanto que já existe uma categoria que se apresenta como atleta virtual – ou e-atleta. Eles se dividem entre profissionais (vivem do videogame graças a salário e/ou patrocínio de clubes, empresas...) e os amadores (jogam por paixão).
Neste final de semana, 160 e-atletas disputarão o edição de 2018 do Campeonato Brasileiro de Pro Evolution Soccer (PES), jogo do Playstation. É a principal competição nacional organizado pela Confederação Brasileira de Futebol Digital e Virtual (CBFDV). Cada jogador passou por seletivas e atuará por si, não representando clube, cidade ou Estado. As disputas serão no Museu do Futebol, que fica no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, neste sábado (22) e domingo (23).
Entre os competidores está um morador da Restinga. Anderson Wenig, 25 anos, até pouco tempo, era motorista de aplicativo. Mas o sucesso em torneios recentes fez o jogador de Porto Alegre sonhar com outra realidade: trocar o "time" dos e-atletas amadores pelo dos profissionais.
- Ser campeão do Brasileirão poderá ser meu passaporte a um outro patamar. Estou virando noites treinando. Durmo duas ou três horas por dia. Só tem fera neste torneio! - conta Anderson, um dos dez gaúchos com vaga na competição.
O primeiro colocado ganhará um Renault Kwid 0km, avaliado em R$ 31 mil. Torneios menores premiam com cifras menores ou videogames. Mas o sonho de Anderson e de qualquer atleta virtual é ganhar o PES League, o equivalente ao Mundial de Clubes, reunindo jogadores de diversos países.
- A fase final é disputada só por 16. Já cheguei perto de ficar neste time no ano passado... - relembra Anderson.
O campeão de 2017 foi um brasileiro. O paulista Guilherme Fonseca, hoje com 18 anos, levou para casa um prêmio de US$ 200 mil, o que equivalente a cerca de R$ 850 mil. Dois meses depois, Flamengo e Santos duelaram por sua contratação. O Peixe levou a melhor ao propor contrato de um ano para GuiFera representar o clube em torneios mundo afora.
Sua torcida vai crescer
Atualmente, Anderson vive de algumas premiações e de trabalhos ligados a competições organizadas pelo PES no Brasil. Caso ganhe o Brasileirão neste final de semana, Anderson pensa em usar o dinheiro para encontrar um imóvel. Afinal, seu primeiro filho está a caminho: a namorada, Larissa, está grávida de cinco meses.
- Já sei que, quando o bebê nascer, minha rotina vai mudar bastante. A torcida na família vai ganhar reforço. Então tenho pressa em ganhar visibilidade e arrumar um emprego como e-atleta - projeta o rapaz.
Gremista, Anderson já representou o clube em torneios, mas ainda não conseguiu um contrato. Mas espera aumentar seu currículo para chamar a atenção. E a fase é boa. Em julho, ganhou seu primeiro torneio interestadual. O troféu tem lugar de destaque no seu quarto, local também de seus treinos _ normalmente enfrenta amigos e conhecidos, todos conectados pelo PlayStation.
- Comecei a jogar PES apenas no final de 2014. Foi muito emocionante ganhar este campeonato. Chego embalado para este Brasileirão!
Por dentro do Brasileirão Virtual
- Os jogos ocorrem neste sábado e domingo no Museu do Futebol, em São Paulo.
- Os 160 jogadores são divididos em grupos de cinco e-atletas, passando dois à fase seguinte.
- Os 64 classificados duelam em mata-mata (dois jogos de 10 minutos cada) até a final. Em caso de igualdade nos critérios, será disputada uma terceira partida, com possibilidade de pênaltis.
- A finalíssima está prevista para as 18h de domingo.
- Os times virtuais têm a mesma qualidade para todos os participantes, que poderá usar seus próprios controles.
- Além de Anderson Wenig, outros nove gaúchos estarão na disputa.