Fãs fiéis, milhões de espectadores, competições televisionadas e prêmios milionários. O que antes era restrito às competições de esportes populares como futebol, vôlei ou basquete agora também faz parte do universo dos videogames.
Os equipamentos eletrônicos, que antes eram vistos apenas como uma forma de diversão, agora são uma modalidade de competição profissional. Os E-Sports (esportes eletrônicos) estão ganhando cada vez mais espaço no mundo todo. Segundo números da Riot, empresa desenvolvedora do game League of Legends (LoL), cerca de 2,6 milhões de espectadores assistiram à final da segunda etapa do Campeonato Brasileiro da modalidade pela televisão e internet.
Além do LoL, outros jogos como Fifa, Dota e Counter-Strike mobilizam jogadores e fãs em disputas profissionais.
Imagine um jogador de futebol profissional largar a carreira para se dedicar aos gramados virtuais? Foi o que aconteceu com o goiano Wendell Lira, vencedor do prêmio Puskas da Fifa em 2015. Após vencer o campeão Mundial do game Fifa, durante a festa da Bola de Ouro, Lira despertou atenção de uma empresa gaúcha que decidiu lhe convidar para ser seu profissional. Ele acabou por largar a carreira para se dedicar exclusivamente à profissão.
– Estava com 27 anos, e o futebol é muito ingrato. É muito bonito você ver os caras jogando e ganhando muito dinheiro, mas aquilo ali é uma pequena parcela dos jogadores. A maioria está passando muita dificuldade. No mundo dos games, eu me vi tendo um projeto para daqui 10, 15 anos. Pensei num futuro melhor para minha família, num projeto de carreira, até porque eu sou um cara que conhece muito sobre o mundo dos games.
Lira foi um dos embaixadores da E-Cup, considerada o maior campeonato de Fifa da América Latina, realizado em novembro do ano passado, no Estádio Beira-Rio. A competição foi vencida pelo brasileiro Senna do Boné, que faturou o prêmio de R$ 50 mil.
A proximidade com o futebol não está restrita apenas aos estádios e jogos. Algumas equipes tradicionais do esporte mais popular do país já estão apostando no E-Sports. É o caso de times como Flamengo, Corinthians, Santos e Remo. Neste caso, todos participam ou participaram de competições de League of Legends. O jogo é uma disputa online onde diversos jogadores batalham em uma arena.
Ainda de acordo com números da Riot, mais de 8 mil pessoas compareceram ao Estádio Mineirinho para assistir à final do Campeonato Brasileiro de LoL, realizado em dezembro de 2017. Também foram realizadas 65 fanfests em todo o país, contabilizando 25 mil espectadores nestes locais. A Team One, equipe vencedora, ganhou o prêmio de R$ 70 mil.
De olho neste mercado, emissoras especializadas em esporte como ESPN, Esporte Interativo e SporTV começaram a cobrir E-Sports. Conforme Leandro Valentim, responsável pela Área de Novos Negócios do SporTV, a cobertura de esportes eletrônicos atrai a audiência do público jovem para o canal.
– A grande discussão que tivemos lá atrás era se E-Sports é esporte e entendemos que sim. A gente acredita que pode cobrir da mesma forma e em mais de uma modalidade. Nossos consumidores mais jovens têm muito interesse em consumir isso. Tem time, tem treino, tem premiações altíssimas, tem profissionalismo. A gente busca atender a essas demandas fazendo a melhor cobertura que a gente pode fazer – avalia.
Como parte da política da empresa, Valentim não dá números definitivos sobre a audiência. Contudo, ele afirma que os números de alcance somam mais de 7 milhões e meio somando todos os produtos de E-Sports que vão ao ar na emissora. No digital, a soma de acessos chega a 1 milhão de usuários por mês na editoria de E-Sports. Aproximadamente 45% dessa audiência tem até 24 anos. Valentim também afirma que, entre o público gamer, mais de 40% acompanha futebol nacional ativamente e outros 67% praticam algum tipo de esporte tradicional.
– Ao mesmo tempo que tem essa similaridade com outros esportes, agrega uma audiência nova para o nosso canal – afirma.
Para Wendell Lira, a popularização do esporte ajudou a mudar a visão de que videogames são apenas diversão.
– Essa geração que está vindo aí praticamente não assiste a televisão. Com o E-Sports, eles (emissoras) conseguem buscar um pouco desse público que tá perdido pra internet. É um público muito grande. Então, as empresas estão vendo com bons olhos – destacou.
– Se você falasse há um ano que era gamer, não seria visto com bons olhos. Era vagabundo, não faz nada, só quer ficar em casa jogando vídeo game. Hoje, não.