Embora os porto-alegrenses consumam mais cultura do que a média da população das 12 maiores capitais do Brasil, Porto Alegre fica em último lugar em dois tópicos: consumo de jogos eletrônicos (46%) e ida a circos (15%). As informações foram reveladas pela pesquisa Cultura nas Capitais, produzida pela JLeiva Cultura & Esporte e pelo Datafolha e divulgada nesta terça-feira (23).
O levantamento despertou a curiosidade de especialistas da área ouvidos por GaúchaZH. Pós-doutor em Jogos Eletrônicos e professor da PUCRS, André Fagundes Pase explica que o Rio Grande do Sul é um dos maiores pólos de desenvolvimento de jogos do Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo. Ele cita duas desenvolvedoras porto-alegrenses como exemplo: a Aquiris Game Studio e a Rockhead Games.
— O lançamento mais recente da Aquiris, o Horizon Chase Turbo, está à venda nas prateleiras das lojas físicas. Isso é surpreendente no mercado brasileiro. A maioria dos porto-alegrenses não tem ideia de quanto isso gera de valor à economia, seja um jogo para console, seja um Candy Crush Saga para celular.
A crise econômica enfrentada pelos gaúchos pode ser uma das explicações para o último lugar da Capital no ranking. Como videogames custam caro no Brasil, os porto-alegrenses deixam o gasto com eletrônicos em segundo plano, dando preferência à tradicional TV e a serviços de streaming.
— Jogar ainda custa caro: um videogame custa R$ 1,7 mil e um título recém-lançado custa R$ 260. Jogamos muito, sim, mas ainda somos tradicionalistas na diversão. Ainda é mais barato assistir à televisão e à Netflix.
Pase cita um caso curioso de como os eletrônicos se tornaram importantes símbolos culturais: na Polônia, por exemplo, a série The Witcher, desenvolvida pela produtora CD Projekt Red, se tornou uma febre. O jogo conta a história do bruxo Geralt de Rívia, trazendo consigo diversas referências sobre o folclore polonês em seu universo e seus personagens. O terceiro título da franquia, The Witcher 3: Wild Hunt, vendeu mais de 1,5 milhões de cópias na pré-venda e foi traduzido para 15 idiomas, incluindo o português brasileiro.
Já sobre Porto Alegre estar em último lugar na ida a circos, a curadora do Palco Giratório, Jane Schoninger, reflete que os tradicionais circos de lona vem perdendo espaço para circos de grande porte, que usufruem de uma melhor infraestrutura e atuam dentro de ambientes fechados.
— O circo tradicional não é tão presente quanto antes. O circo itinerante, de lona, fica mais nas periferias, nos extremos norte e sul da cidade. Em Brasília e Fortaleza, que estão em primeiro lugar, a tradição familiar do circo ainda é muito presente. Eles ainda existem, mas com muita dificuldade de se manterem. Já os contemporâneos ficam em lugares fechados, como teatros. Não sei se nossos filhos terão a memória do circo de lona — diz Jane.