Valorização por parte da população, boa oferta e pioneirismo estão entre as razões apontadas por nomes destacados do meio cultural para o fato de porto-alegrenses consumirem mais cultura do que a média da população das 12 maiores capitais do Brasil. O dado foi revelado nesta terça-feira (23) pela pesquisa Cultura nas Capitais, produzida pela JLeiva Cultura & Esporte e pelo Datafolha.
Além de mostrar que a cidade fica em primeiro lugar na ida a cinema e saraus, o levantamento diz que a maioria dos entrevistados conhece ou já foi à Usina do Gasômetro e à Casa de Cultura Mario Quintana. A Semana Farroupilha é a segunda festa popular mais citada pelos moradores, ficando atrás das festas juninas.
Secretário municipal de Cultura, Luciano Alabarse comemora que números são "satisfatórios", apesar de a cidade ter protagonizado casos de "censura econômica", citando o fechamento da exposição Queermuseu, em agosto de 2017, após críticas em redes sociais:
— Não é de hoje que Porto Alegre valoriza enormemente a atividade cultural. Os grupos que vão ao Theatro São Pedro elogiam muito, dizem que somos a plateia mais atenta aos espetáculos. Apesar dos cortes e das tentativas de boicote aos movimentos, a resistência permanece forte.
Para o cineasta Carlos Gerbase, a liderança em idas ao cinema tem relação com as possibilidades de locais para os espectadores assistirem aos filmes. Ele explica que, como há muitos shoppings espalhados pela cidade, as bilheterias acabam atraindo o público jovem e familiar durante passeios.
— Somos uma das cidades com maior número de salas de cinema por habitante. As distribuidoras, para decidirem se o filme vai dar certo no Brasil ou não, costumam exibir ele primeiro em Porto Alegre. Temos a fama de ser um mercado bem exigente — ressalta.
Os saraus, outro item em que a capital gaúcha aparece no topo, tem uma explicação diferente. Idealizadora do Sarau Elétrico, Kátia Suman interpreta que a atividade foi impulsionada pelo tradicional encontro no Bar Ocidente.
— Os saraus não eram tão fortes antes do Sarau Elétrico, que começou em 1999. Em outras cidades, eles são esporádicos; o nosso acontece todas as terças-feiras, faça chuva ou faça sol. Não é nada acadêmico: é descontraído, leve e pop. Tem gente até que traz amigos e colegas de outros estados e países para conhecer.
Para a pesquisa, foram entrevistadas 10.630 pessoas com idades a partir dos 12 anos em Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e São Paulo — destes, 621 eram moradores de Porto Alegre. As perguntas foram feitas presencialmente em pontos de alto fluxo de pessoas entre os dias 14 de junho e 27 de junho de 2017 e questionavam os hábitos culturais dos 12 meses anteriores.