Tita, como é chamada a filhote de bugio abandonada no bairro Lami, na zona sul de Porto Alegre, caminhava incansável por cima dos ombros da cuidadora, Silvia Saint Martin Ribeiro, na sexta-feira (18), quando GaúchaZH esteve no abrigo onde se encontra.
— Ela tem personalidade forte. Quando não gosta de alguma coisa, grita mesmo. Se impõe, sabe?
A fêmea tem dois meses e pesa 550 gramas. Cabe na mão. Foi encontrada em abril por um morador do bairro Lami, que chamou a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade. Estava sozinha no topo de uma árvore. Funcionários da Reserva Biológica José Lutzenberger foram buscá-la. Depois de sete dias sob os cuidados da estagiária de Biologia da reserva Liliana Ferreira Cardoso, e com os exames em dia, a macaquinha ainda não havia conseguido se readaptar a natureza — aí é que Tita foi deixada sob os cuidados de Silvia.
— Todas as espécies tem um comportamento de seleção natural. É possível que ela tenha sido abandonada pelo bando por conta disso. Também pode ter acontecido de alguém pegar ela para si e desistir da ideia depois. Não temos como saber — conta a bióloga da reserva, Maria Carmem Bastos.
Silvia acredita que Tita tenha se distanciando do bando e ficado para trás.
— É muito curiosa — justifica.
Autorizada pelo Ibama, a cuidadora tomará conta da macaquinha até que ela esteja forte o suficiente para viver na floresta. A previsão é de que o processo leve dois anos, mas existe a possibilidade de que o animal não consiga aprender a se virar sozinho e tenha de permanecer em um abrigo.
– Nunca se apaixone por um macaco, eles são muito volúveis – brinca.
A alimentação é balanceada. Toma leite em pó na mamadeira e come frutas como melão, banana e manga. Enquanto ajuda a pequena a segurar uma fatia de abacate, a cuidadora explica que, por ser muito nova, Tita depende dos humanos para tudo. Durante as duas horas em que a reportagem acompanhou sua rotina, não desceu do colo das visitas uma única vez. O comportamento pode até se assemelhar ao de um bebê humano, ou ao de um pet. Porém, quando crescem, os bugios em nada se parecem com cachorros, gatos ou crianças.
— Se deparar com um animal selvagem, ligue para os setores de fauna silvestre das secretarias do meio ambiente. Quando ficam dando comida, é claro que o bicho volta, mas isso é ruim para ele. Isso o afasta de sua própria natureza — adverte a bióloga.
Encontrar pessoas que estejam dispostas e capazes de serem cuidadoras não é uma tarefa fácil. É preciso tempo e dedicação, além de uma situação financeira estável, já que as despesas são bancadas somente com a ajuda de quem se solidariza à causa. Além de Tita, Silvia cuida de outros 29 macacos. O Rincão do Araticum abriga ainda araras, gansos, cachorros e gatos. Para ajudar, acesse rincaodoaraticum.com.br ou mande e-mail para silvia.rib@globo.com. O local recebe grupos de visitantes de até 10 pessoas com agendamento prévio.