Vídeos de um motorista reclamando da cobrança após abastecer sua caminhonete Sportage em um posto de combustíveis, na Avenida Guilherme Schell, número 2.116, em Canoas, que circulam em grupos de WhastApp, levaram órgãos de fiscalização ao estabelecimento nesta terça-feira (22). Em uma das filmagens, o microempresário Rodrigo Gomes aparece mostrando uma nota fiscal onde consta a aquisição de 66 litros de gasolina aditivada e reclamando que o veículo comportaria, no máximo, 55 litros.
O condutor voltou ao posto e pediu para que os frentistas fizessem os testes, retirando o combustível e fazendo nova medição. Em outro vídeo, ele diz que o posto encontrou 45 litros e não os 66 que teriam sido abastecidos. O terceiro (acima) mostra o motorista abastecendo novamente, desta vez com 69 litros, e reclamando mais uma vez da possível irregularidade. O caso ocorreu entre a tarde e a noite de segunda-feira (21).
Técnicos do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) fizeram testes em galões de 20 litros em todas as bombas e não constataram diferença entre a quantidade e o que marcavam os equipamentos. No entanto, o Inmetro identificou indícios de violação no lacre de uma das bombas, o que, segundo o responsável pela fiscalização, poderia permitir adulteração no momento de abastecer veículos.
Um auto de infração foi emitido e um laudo será elaborado pelo Inmetro. A multa pode variar de R$ 5 mil a R$ 15 mil. O Procon de Canoas, com base nas informações do Inmetro, também emitiu um auto de infração e abriu um processo administrativo. O proprietário tem 10 dias para apresentar defesa.
— O Inmetro nos deu um relatório preliminar que constatou essa prática infrativa. O lacre está violado, está com folga, o que possibilita a manipulação de combustível. É nesse lacre que é feito o controle do combustível, da quantidade — afirma Gilmar Pedruzzi, diretor do Procon de Canoas.
Policiais da Delegacia de Proteção ao Consumidor do Departamento de Investigações Criminais da Polícia Civil estiveram presentes no posto e aguardam o envio dos documentos dos órgãos de fiscalização para instaurar um inquérito para investigar o caso. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) também esteve no posto.
Em entrevista ao programa Gaúcha+, da Rádio Gaúcha, o microempresário Rodrigo Gomes disse que desconfiou dos 66 litros de gasolina.
— É um direito meu ficar desconfiado, já que eu sei que, na minha caminhonete, cabem 55 litros. O que eu fiz? Entrei em contato com a Kia (fabricante do veículo), já que eu não estava com o manual no carro, e pedi para que me informassem quantos litros caberia na minha caminhonete. E eles me disseram: 55 litros.
O que diz o posto
O proprietário do posto, Rudinei Fagundes, ficou sabendo do caso ao receber os vídeos de amigos. Garante que não houve qualquer irregularidade no abastecimento e que aquele modelo de veículo comporta mais de 55 litros de combustível. Ele propôs, inclusive, que o motorista voltasse ao posto para provar que o tanque comportaria os 69 litros que a bomba marcou anteriormente.
Sobre os autos de infração emitidos pelo Inmetro e pelo Procon, falou em "preciosismo":
— Aquilo não muda nada. A bomba foi testada com a folga (no lacre) e estava tudo ok. Aquela folga é um preciosismo da fiscalização. Ele (Gomes), inclusive, pagou a diferença entre os 66 litros de antes e os 69 litros posteriores.
Fagundes disse que coloca à disposição das autoridades as imagens do circuito interno de câmeras de vídeo para comprovar que nenhuma das bombas foi adulterada. O supervisor da rede de postos, Uylson Zílio, confirmou que o lacre com indícios de violação estava na mesma bomba usada para abastecer a caminhonete:
— Nos últimos 15 dias, não houve nenhuma manutenção nessa bomba. Nunca praticamos qualquer irregularidade.
O frentista que abasteceu a caminhonete afirma que o motorista pediu para colocar mais combustível após o desarme automático da bomba.
— Eu enchi até a boca. Completei tudo após o estalo — sustenta o funcionário, que não quis se identificar.
Conforme o Sindicato dos Postos de Combustíveis do Rio Grande do Sul (Sulpetro), pesquisa divulgada pela Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) e realizada por empresa certificada pelo Inmetro constatou que "determinadas marcas e modelos de veículos comportam mais quantidade de combustível no tanque do que o indicado no manual do veículo".
Uma ocorrência por calúnia foi registrada na 4ª Delegacia da Polícia Civil de Canoas pelo supervisor da rede de postos, Uylson Zílio.