Tradicionalmente associado ao público feminino, um salão de beleza inaugurado nesta segunda-feira (14) na Cidade Baixa, em Porto Alegre, resolveu ir a fundo na abordagem temática. Voltado exclusivamente ao atendimento de mulheres feito por mulheres, o Madam Parlour apresenta-se como um salão feminista.
— A ideia começou a surgir quando algumas clientes (em outro salão) contaram que tentaram ir em barbearias, mas não deixavam mulheres entrar nem para marcar horário. Eram como se fossem um templo masculino. Então, fizemos um templo feminino. É para ser um lugar onde as mulheres possam abstrair, se divertir, se apoiar. Não priorizamos a beleza. O que a gente quer é identidade: se tu te identificas com a cabeça raspada, vais ter cabeça raspada — conta Hanny Barcellos, 30 anos, uma das sócias do local.
Alguns dos atrativos do local, que funciona em uma casa de três pavimentos da Rua Lopo Gonçalves, lembram mesmo as tais barbearias descoladas: nos fundos da construção, um bar com torneiras de chope, drinks e uma mesa de sinuca (que ainda não chegou) convidam as clientes a um momento de descontração. Além dos serviços tradicionais de cabeleireira, maquiagem, depilação, manicure e pedicure, haverá uma tatuadora trabalhando na casa.
A decoração é marcada por tiradas bem-humoradas. Logo na entrada, um recado em inglês sobre o caixa dita o espírito do lugar: "Support your local girls gang" ("Apoie sua gangue de garotas locais"). Ao lado dos lavatórios, em um letreiro luminoso, um trocadilho foi estrategicamente posicionado para reforçar a ideia do atendimento exclusivo: "Corto cabelo e pinto", diz, para espantar os bons entendedores.
O principal diferencial, porém, é a busca do empoderamento feminino em cada detalhe. Todo o projeto arquitetônico, o Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI), o planejamento financeiro e a parte artística (há pinturas dentro e fora da casa) foram feitos por profissionais mulheres, e os chopes vendidos no bar são todos feitos por cervejeiras. A reforma do imóvel, o que mais adiou a abertura, reforçou a importância do posicionamento adotado pelas sócias: sem encontrar profissionais mulheres que dessem conta de todos os aspectos necessários, acabaram cedendo à contratação de uma equipe masculina.
— A gente demorou um pouco para abrir porque tivemos dificuldade na captação de mão de obra feminina. O que vai tornar o lugar feminista é o lance de uma impulsionar a outra. Tem mulheres que fazem muitas coisas para se virar, mas não se veem como empresárias. Hoje, o empreendedorismo feminino tem um nome, mas é uma coisa que sempre existiu — destaca Hanny, que até então mantinha a marca dentro do espaço de um cabeleireiro homem, no bairro Bom Fim.
Apesar da convicção sobre a necessidade de fazer algo voltado ao empoderamento feminino, Hanny conta que não foi fácil tomar a decisão de tirar a ideia do papel: sem certeza da aceitação do público, foram meses de conversas com clientes e amigos até chegar no formato ideal. O resultado se estendeu para além do salão-bar-clube da luluzinha, que também será um ambiente de trabalho colaborativo aberto a outras mulheres. Há espaços disponíveis para locação, cursos e oficinas, além de uma cadeira de cabeleireiro que será reservada à atuação de freelancers.
— Um homem fazer uma barbearia e colocar um monte de foto de mulher pelada é algo que ele vai fazer sem pensar se é certo ou não. Não é que a gente odeie homem: a gente só quer um espaço para a gente também. Temos uma cultura machista que nos obriga a pensar três vezes para algo não ser interpretado de uma forma ruim — diz.