Na última terça-feira (27), diante de cerca de 230 empresários, o prefeito Nelson Marchezan detalhou as dificuldades financeiras da prefeitura e disse ser preciso vender ou extinguir três estatais — Carris, Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), da Carris e da Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa) .
Incomodados com as afirmações de Marchezan — o prefeito chegou a brincar com a plateia, perguntando se alguém queria comprar a Carris — servidores e representantes sindicais defenderam a manutenção das entidades.
Conforme Marchezan, extinguir a Fasc retiraria a assistência social "das mãos de uma estrutura partidarizada".
O Conselho Municipal de Assistência Social de Porto Alegre emitiu uma nota de repúdio sobre as declarações do prefeito. Na tarde desta sexta-feira (2), será realizada uma Plenária Extraordinária na sede do conselho para debater o que será feito em relação às afirmações de Marchezan. "O prefeito desconhece, ou não, que a Política de Assistência Social, regulamentada pelo Sistema Único de Assistência Social - SUAS, é gratuita, universal, não visa lucro, sendo dever do Estado e direito do cidadão", manifestou o conselho em nota.
A servidora e membro do Conselho Municipal de Assistência Social Angela Aguiar da Silva, que atua na Fasc há 27 anos, contesta a ideia do prefeito. Ela reconhece que a fundação enfrenta problemas de atendimento à população em função da falta de funcionários e "há um bom número de pessoas que pediram exoneração do cargo e não foram substituídas".
— Nós estamos todos indignados com essa afirmação do prefeito, demonstra um total desconhecimento da política de assistência social. A fundação tem uma lei de ordenamento aprovada e não há chamamento público. A Fasc não é uma empresa, não tem que dar lucro, é um descaso total com o atendimento que se faz a todos os usuários de Porto Alegre. Nós trabalhamos com vidas, temos uma função de proteção social — lamenta Angela.
Alvo de críticas de Marchezan desde a campanha, a Carris foi citada mais uma vez como uma companhia deficitária — a empresa, segundo o prefeito, dá prejuízo de R$ 60 milhões ao ano. Vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Transporte Rodoviário de Porto Alegre (Stepoa) e funcionário da Carris há 21 anos, Sandro Abade protesta contra as afirmações da prefeitura. De acordo com ele, em reunião realizada com a diretoria da companhia teria projetado que a empresa "entraria no azul em 2019".
— É muito contraditório a diretoria nos chamar para reuniões periódicas e nos apresentar uma "luz no fim do túnel" e ele dizer que vai vender a Carris porque está tendo prejuízo. Se a Carris não dá lucro, não vai aparecer comprador. Se a Carris dá lucro, vai aparecer comprador. Mas se dá lucro, vai vender por quê? — questiona Abade.
A Procempa, de acordo com o prefeito, é cara demais e uma solução seria vender ou reduzir a estrutura da empresa. Analista de informação e comunicação da Procempa há cinco anos e meio, Leandro Paulo Bogoni, defende que o trabalho realizado pelo órgão não pode ser passado a uma empresa porque "a companhia contabiliza 40 anos de dados históricos do município e informações dos contribuintes".
— Nós temos dados mais de 40 anos do município que não podem ser simplesmente passados para uma empresa privada. Atender um órgão público é muito diferente, as regras e o funcionamento de um órgão é diferente. Um sistema de empresa privada tem de ser tão adaptado para atender o Executivo a ponto de ser feito um novo sistema. Além disso, é muito difícil e caro ter uma empresa que faça manutenção do sistema sempre e enquanto for necessário — argumenta Bogoni, que também é membro do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados do Rio Grande do Sul.
GaúchaZH pediu informações e solicitou entrevistas à direção de cada órgão, que encaminhou o assunto ao gabinete do prefeito. Até o fechamento da reportagem, Marchezan não quis se manifestar sobre as declarações dadas na reunião-almoço. O argumento dado pela assessoria foi de que o prefeito já havia se manifestado sobre as três estatais durante o evento.