Das 13 pessoas em situação de rua que foram removidas das margens do Arroio Dilúvio, em Porto Alegre, no último sábado (24), em ação da prefeitura, apenas três buscaram atendimento da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) nesta segunda-feira (26). Conforme a secretária interina de Desenvolvimento Social e Esporte de Porto Alegre, Denise Ries Russo, no momento da ação, uma carta foi entregue a eles, orientando-os a procurar os Centros de Referência Especializados da Assistência Social(Creas).
— Muitos deles têm família e até fazem essa opção de ficar na rua, talvez até por isso não tenham procurado. O trabalho da Assistência é mostrar que existem outras alternativas, outros encaminhamentos e que há possibilidade de retomarem suas vidas — relata Denise.
A pasta está analisando os três casos que procuraram atendimento individualmente para dar seguimento à ação. É verificado se precisam de documentos, se têm Cadastro Único para então, em um segundo momento, se for o caso, dar encaminhamento ao benefício de Aluguel Social.
Na tarde desta segunda-feira (26), GaúchaZH percorreu a Avenida Ipiranga no trecho entre as avenidas Edvaldo Pereira Paiva e João Pessoa, onde foi realizada a ação de remoção dos moradores. Após serem descartados e recolhidos pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana, pelo menos um barraco voltou a ser construído — na esquina com a Avenida Getúlio Vargas, onde uma espécie de jardim dava um colorido à residência improvisada. Conforme a secretária, a equipe da Fasc retornará ao local essa semana para realizar uma nova abordagem ao morador.
Para o professor do programa de pós-graduação de Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Eber Pires Marzulo, nos próximos dias outros moradores devem voltar para os locais de onde foram retirados.
— É muito provável que voltem para os mesmos lugares ou, se não for possível, que encontrem outro ponto. Tem pessoas que escolhem viver na rua, que não conseguem ter adequação a uma casa, com endereço fixo. Tem aqueles que estão sem condições de moradia e escolhem isso porque as opções que lhes são dadas são muito distantes da região central, onde temtudo. Não adianta tirar eles da rua e não ter onde colocar, ou não oferecer algo que seja de acordo com a realidade deles — comenta.
Conforme Marzulo, a solução seria oferecer infraestrutura e equipamentos públicos adequados, como banheiros públicos e vestiários onde pudessem cuidar da higiene. Os albergues e abrigos, em seu entendimento, têm muita burocracia e regras que, muitas vezes, a maioria não quer seguir.
— Os moradores de rua fazem parte da cidade, fazem parte do nosso contexto histórico. Eles têm um certo nomadismo, são diferentes grupos que transitam pela cidade. Se tivesse mais equipamentos públicos, como banheiros e áreas onde eles pudessem tomar banho, eles não viveriam em condições tão precárias assim. Os albergues e abrigos da cidade não comportam todos eles e igual, tem horário para sair, ou seja, a pessoa continua na rua. Eles não têm nenhum motivo para confiar nas instituições públicas, é muito burocrático — argumenta o professor.