Os moradores de rua instalados nas margens do Arroio Dilúvio, em Porto Alegre, começaram a ser removidos em ação da prefeitura da Capital. Durante a manhã e a tarde deste sábado (24), equipes da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) e do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) percorreram a Avenida Ipiranga retirando os moradores e destruindo as casas improvisadas, construídas com restos de materiais e lixo, principalmente sobre os taludes do arroio.
No total, 13 remoções foram realizadas no trecho entre as avenidas Edvaldo Pereira Paiva e Azenha. As equipes coletaram dados dos moradores. Nas abordagens, as pessoas em situação de rua receberam um papel e foram orientadas a procurar a Fasc na próxima segunda-feira (26) para dar continuidade ao atendimento de assistência social.
Muitos foram retirados das estruturas contrariados. Foi o caso de Roberto Carlos da Silva Krummenauer, 38 anos, que usa a ponte do Dilúvio, na esquina das avenidas Getúlio Vargas e Ipiranga, como moradia há sete meses. Ele e o colega de barraco José Ivan de Oliveira, 29 anos, usaram materiais que encontraram no lixo para montar uma casa no local. Até um pátio foi construído no terreno, com plantas protegidas com pneus, flores plantadas em vasos e uma cerca montada para separar o barraco e o terreno.
— Eles chegaram, começaram a retirar tudo, me pegaram desprevenido. Agora eu vou pegar minhas coisas e dormir ali no Dias da Cruz (albergue localizado na esquina das avenidas Ipiranga e Azenha). Nem documentos eu tenho, porque fui roubado — lamentou Roberto, assistindo a residência sendo desmanchada por garis.
No entanto, conforme a secretária interina de Desenvolvimento Social e Esporte de Porto Alegre, Denise Ries Russo, todos os moradores em situação de rua da região estavam cientes de que a ação de remoção ocorreria no sábado (24):
— Duas semanas atrás nós iniciamos um processo de abordagem intensiva. Nós conversamos com esses moradores, explicamos os riscos que a área oferece, fizemos cadastro social e colocamos os nossos serviços de assistência à disposição.
A ação da prefeitura gerou polêmica entre pessoas que passavam pelos locais onde ocorriam as remoções. Moradores da região conversavam com os desalojados, colocando-se à disposição para auxiliar no que for necessário e orientando que procurem ajuda dos órgãos municipais.
A estudante Giovanna Furtado, 25 anos, retornava do mercado quando lhe chamou à atenção a retirada da residência de Roberto.
— Isso é desumano. Estou bem indignada. É crescente o cuidado que ele tem com a casa. Mostra que morador de rua também tem capacidade de gerir um lar, seja de concreto ou com restos de lixo. Acho que o que estão fazendo aqui não é cidadania. Todos têm direito à moradia, mas tem de dar um serviço completo, tem que ter a recolocação no mercado de trabalho — desabafou Giovanna.
Desde o início da ação, às 9h, 35 toneladas de entulhos foram removidas pelas equipes. Conforme a secretária interina, os objetos foram descartados com a autorização dos moradores.
— As pessoas nos dizem se querem guardar ou não (os objetos). A maioria não quis guardar. Quando nos pedem para guardar, nós catalogamos os itens, informamos onde será guardado, que pode ser ou em um depósito do DMLU, ou em um depósito da Fasc, e eles podem ir lá retirar — explica Denise.
Em nota, a Fasc afirma que a ação é de rotina e faz parte do serviço de abordagem social das pessoas em situação de rua em Porto Alegre, com o auxílio de diferentes órgãos da prefeitura, como Guarda Municipal e DMLU.
Segundo a fundação, "das 9h às 16h30min, foram identificadas e cadastradas 13 pessoas, na faixa etária de 30 a 55 anos. A elas foi ofertado abrigo em instituições do município. Foi agendado prosseguimento aos encaminhamentos para a segunda-feira. As abordagens sociais da Fasc são realizadas sistematicamente em diferentes regiões da cidade, especialmente em locais de risco, como é o caso dos taludes do Arroio Dilúvio".