Uma plaquinha pendurada numa árvore da Praça Hamilton Chaves, no bairro Nonoai, em Porto Alegre, anuncia: "Há crianças sendo crianças nesse lugar".
Mas não era assim até dois meses atrás. Os poucos brinquedos que tinham estavam estragados, e o mato e o lixo tomavam conta da área, frequentada por usuários de drogas e evitada ao máximo pelos moradores.
— Quem voltava do trabalho no final de tarde fazia a volta. Não passava por dentro da praça — comenta a advogada Flavia Foppa, 42 anos, relatando que o logradouro estava abandonado há cerca de 10 anos.
Foi por iniciativa dela que a vizinhança revitalizou a praça. Em outubro, Flavia e os filhos Milena, 13 anos, e Alexandre, 11 anos, começaram a recolher o lixo no logradouro. Na sequência, surgiu a ideia de pintar o meio fio, e a mãe dela, a dona de casa Terezinha, 67 anos, se voluntariou para comprar as tintas. Vendo a ação da família, o pessoal do bairro começou a se envolver: um senhor comprou um carrinho de mão para facilitar os trabalhos, comerciantes disseram que pagariam alguns brinquedos, e muita gente que Flavia nem conhecia chegou também com disposição para trabalhar.
Além de capinar e plantar flores, compraram ou reformaram os balanços, as gangorras, o escorregador. Conseguiram lixeiras usadas com o DMLU, as quais desamassaram, lixaram, pintaram, soldaram e até decoraram com a figura do Cascão botando lixo no lixo.
— Às vezes, a gente se sente sozinho para fazer, mas quando começa, aparece gente pra ajudar — comenta Flavia.
Ela não esconde a empolgação em contar o zelo que as crianças têm com a praça agora. Quando veem uma garrafa no chão, elas saem correndo para ajuntar e colocar nas lixeiras. As crianças vão até a casa da advogada buscar água para regrar as plantinhas.
A transformação da praça não para: um gira-gira e uma prancha vaivém foram instalados em um mutirão na noite de quinta-feira. Nesta semana também, Flavia pendurou enfeites de Natal feitos com a ajuda de adolescentes da Vila Mato Grosso. Na ocasião, um morador da Vila Cantão, que se ofereceu para pintar o meio fio, pediu que a repórter registrasse sua indignação:
— O Marchezan disse que seria um bom prefeito, e a comunidade tem que estar fazendo as coisas. Na hora de pedir voto, eles vêm na vila, pegam criança no colo, mas a maioria não volta depois de eleito — queixou-se Luis Fernando dos Santos Lucas, 40 anos, pintor de obras.
Flavia adota um tom mais conciliador, e evita reclamar. A advogada diz se sentir a maior beneficiada com as mudanças na praça, em razão do exemplo que pôde dar aos filhos.
— A experiência de eles verem que quando se tem iniciativa as coisas acontecem já foi válida — diz ela.
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