Os tradicionais 10% de taxa de serviço em restaurantes e bares podem estar com os dias contados. Não que eles caminhem para a sua extinção: uma mudança provocada pela Lei da Gorjeta está levando estabelecimentos do sudeste do país — e agora em Porto Alegre — a sugerir que o cliente pague 13% caso o atendimento tenha sido bom.
Mudar os célebres "10% do garçom", aplicados também a outros membros é uma forma de garantir que os próprios profissionais, que muitas vezes turbinam o salário com as gorjetas, não tenham muita queda no rendimento.
— Foi um pedido da equipe — esclarece Carla Tellini, CEO do Grupo Press, que passará a sugerir 13% nos 10 estabelecimentos da Capital a partir do próximo mês.
Valendo desde maio, a nova lei estabelece que a gorjeta (que segue opcional) seja considerada parte do salário dos garçons e de outros trabalhadores: as empresas devem começar a anotá-la na Carteira de Trabalho e no contracheque de seus empregados. Por causa disso, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho, até 33% do que o cliente paga de taxa de serviço podem ser retidos pela empresa para custear os encargos sociais, previdenciários e trabalhistas (para os estabelecimentos que seguem o regime comum de tributação). No caso de restaurantes que seguem o Simples, a empresa pode ficar com até 20% do valor.
Na prática, a mudança diminui o valor que o funcionário recebe ao final do mês. Por exemplo: se antes o funcionário ganhava R$ 100 de gorjeta, passará a colocar no bolso R$ 80 (no Simples) ou R$ 67 (no regime comum de tributação). Mas Jorge de Lima, vice-presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro e Similares de Porto Alegre (Sechspa), pondera:
— Isso vai originar um desconto, e por isso pode parecer ruim no momento. Mas, no futuro, vai ser melhor para os empregados: vai refletir nas férias, no 13°, no FGTS...
Aumento é tendência, mas pode demorar para pegar
Cada empresa ainda está avaliando as alternativas junto com os funcionários, levando em consideração também o seu público, segundo a presidente da seccional Rio Grande do Sul da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-RS), Maria Fernanda de Laquila Tartoni.
— Eu acredito que o público gaúcho é um pouco diferente do público do Rio de Janeiro e de São Paulo. Não vai ser assim tão fácil incrementar — opina, lembrando que o cliente pode se recusar a pagar a gorjeta. — Pode até ser uma tendência, mas eu acho que vai demorar um pouquinho aqui em Porto Alegre.
Ela ressalta que existe vontade por parte das empresas para aderir à regulamentação, até porque antes da lei havia uma insegurança muito grande a respeito da taxa de serviço.
— Agora é questão de se adaptar — comenta.
O Outback Steakhouse já incluiu três diferentes sugestões de taxa de serviço: o cliente pode escolher entre 10%, 12% ou 13% de gorjeta. Uma tática que deve ser usada pelo Grupo Press (que reúne Bah, Press Café e Ô Xiss, entre outros) é explicar o motivo da mudança (sugestão de 13%) em um bilhete anexo à conta do cliente. Carla Tellini acredita que mais empresas adotarão o aumento de alguns pontos percentuais na taxa.
— A tendência é que os 13%, em seguida, se consolidem — opina.
Mas se o cliente vai pagar mais de gorjeta, não é de se espantar que seja cobrada correspondência no serviço prestado. O consumidor, que já é muito exigente hoje, na avaliação de Carla, pode ficar ainda mais.
— Tem que ficar claro que precisa haver uma contrapartida. Requer investimento de todos os lados.