Maria do Carmo no estúdio, João Dib na tribuna, Suzana Davis nas pistas de turfe, João Antonio em cartões-postais internacionais, Gert Schinke em cima de uma chaminé. Em palcos que não podiam ser mais diferentes, esses nomes ganharam fama em Porto Alegre no final do século passado. Suas imagem, personalidade ou voz permanecem guardadas na memória do porto-alegrense e funcionam como um retrato da cidade que os consagrou.
É que as celebridades são projeções dos seus seguidores, de acordo com Henrique Keske, doutor em Filosofia e professor de mídia e cultura na Universidade Feevale. Como quando João Antonio aparecia na sua TV, no intervalo do jornal ou da novela, vestindo ternos e jaquetas Tevah em cenários deslumbrantes da Europa.
— As celebridades expressam esse inconsciente coletivo de sucesso. E por isso que são tão tocantes — desenvolve o docente.
Seja ela Paul McCartney ou alguém que só distribui autógrafos quando aparece na Rua da Praia, a celebridade é ainda a representação de algo caro e importante a um grupo, conforme Lígia Lana, pesquisadora do departamento de Comunicação Social da PUC-Rio e coautora do livro Celebridades no Século XXI. Ela lembra ainda que o conceito de celebridade implica em celeridade, em rapidez. Já é esperado que essa pessoa saia de cena em determinado momento, e, hoje, elas aparecem e desaparecem com cada vez mais velocidade em razão do avanço das mídias digitais. Os 15 minutos de fama referidos por Andy Warhol estão ficando cada vez mais minguados, observa Keske.
Para Paula Puhl, doutora em Comunicação e professora da PUCRS, a partir das suas áreas de atuação, as celebridades da era pré-internet mantinham uma relação mais íntima com a sociedade da sua época: elas ditavam moda e propagavam maneiras de se portar.
— Hoje, isso é muito pulverizado. Eu posso seguir 20, 30 celebridades se quiser — comenta.
Elas também reforçavam ideologias, como Gert Schinke desafiando autoridades em causas ambientais, e, em alguns casos, se destacaram ao representar minorias sociais. Bem antes da expressão "empoderamento feminino" se popularizar, Suzana Davis emplacou cerca de 800 vitórias no turfe, um dos tantos ambientes dominado por homens na época na década de 1970.
Para Paula, a fórmula para se tornar celebridade inclui ter carisma (tal como o Careca do Tevah), representar a identidade de uma comunidade (e nisso se sobressai o nome de João Dib, 10 vezes vereador de Porto Alegre) e saber usar a mídia, que ainda é a grande chave para a fama — e foi manejada com maestria pela jornalista Maria do Carmo. Mesmo se aposentando dos holofotes, quem tiver essas características vai ser lembrado em uma conversa na fila do súper ou em alguma discussão importante na Câmara. No mínimo, surgirá a curiosidade carregada de saudosismo: por onde anda essa pessoa?
— Querer saber isso tem muito a ver com a relação da memória afetiva com uma época — relata Paula. — Cria-se uma ligação emocional com essas personalidades.