Se não é pela voz, as pessoas a reconhecem nas ruas de Porto Alegre pelo sorriso. Afinal, foram 18 anos participando — com o jeito amável e elegante — do almoço dos gaúchos. Embora tenha apresentado outros programas de TV e rádio, além de ocupar por dois mandatos uma cadeira na Assembleia Legislativa, é pelo JA que Maria do Carmo Bueno Garcia, 70 anos, é lembrada.
— As pessoas dizem: "Maria do Carmo, Jornal do Almoço?". E eu digo: "Isso!" — conta, sem poupar na interpretação e no entusiasmo. — É uma marca na minha vida.
Desde que deixou a RBS TV, em 1994, Maria do Carmo foi deputada estadual, se aventurou pela moda, teve uma empresa de comunicações, organizou eventos e voltou para veículos de massa — o último foi a Rádio Guaíba.
Hoje, Maria do Carmo também se dedica a curtir sua aposentadoria, viajando basante e aproveitando ainda mais a família. Ela se divide entre as plantas que cultiva no apartamento e a vida rural em uma propriedade no Lami, no extremo sul da Capital.
— Essas coisas do campo, de mexer com a terra, eu adoro. Sempre gostei.
Dois mandatos na Assembleia e uma candidatura a prefeita
A apresentadora estreou na TV Difusora, em 1974, antes de migrar para a RBS TV, em 1976. Ela lembra que seu início na extinta emissora foi após assistir a Ieda Maria Vargas em um anúncio para garimpar "caras novas para o vídeo". Começou no programa Comunicação e, em poucos meses, chamavam-na para o Câmera 10.
— Tinha Ana Amélia Lemos, a Ieda, Sérgio Schüller, um pessoal com muita bagagem. E eu lá, com três meses no vídeo — conta. — Mas sou toda dos desafios.
Entre as incontáveis entrevistas feitas em quatro décadas de carreira, duas a marcaram mais. Maria do Carmo abre o sorriso — mais do que o de costume — ao lembrar da primeira: um doce bate-papo com Mario Quintana. Como recordação, guarda o livro que ele lhe deu, um exemplar de Na Volta da Esquina. A dedicatória data de 1979: "Para Maria do Carmo, do seu amigo e admirador".
— Imagina! Eu me emocionei — conta.
A outra entrevistada era Elis Regina. Foi em 1981, quando a cantora veio a Porto Alegre para o show Trem Azul, poucos meses antes de morrer. A artista fumou cigarro durante toda a conversa, sentada com os pés em cima do sofá. Telespectadores ligaram para criticar os modos da cantora, que deixou claro não se importar com o que achavam dela. Quando Maria do Carmo relatou que teve que mudar o costume de sentar sobre uma das pernas porque foi criticada, Elis provocou:
— Por que você tem de sentar assim em sinal de respeito às pessoas, e as pessoas não respeitam sua forma de sentar?
— Quem sabe eu vou sentar assim então — respondeu Maria do Carmo, retomando a pose que lhe rendeu críticas no passado.
Ao deixar o JA, foi eleita deputada estadual pelo PPB em 1994, com mais de 200 mil votos, e reeleita em 1998. Antes, em 1990, chegou a concorrer a vice-governadora na chapa de Nelson Marchezan (PDS), pai do atual prefeito. Em 1996, disputou a prefeitura de Porto Alegre. Maria do Carmo chegou à conclusão de que política não era para ela:
— Às vezes, quando tinha projetos de uma bancada adversária, algum projeto social interessante, bom, tinha aqueles recadinhos do teu partido: "Não vota para não dar apoio para o fulano". E a tramitação das coisas também, é tudo muito demorado.
Apesar disso, ela ressalta que levou as coisas boas dessa passagem. Pratica seu lado Pollyana, procurando algo de bom e positivo em tudo.
— Eu fiz as leis que queria fazer, e acredito que meu papel como mulher política e pública eu fiz — diz ela, emendando: — Vivenciei uma experiência que foi gratificante, porque acho que tudo na vida gratifica.
Esta matéria foi publicada originalmente em 3 de outubro de 2017 e atualizada no dia 8 de outubro de 2018.