Primeira mulher a se tornar jóquei no Brasil, Suzana Davis é dona de umas 800 vitórias. A porto-alegrense correu em 58 hipódromos do Brasil e do Exterior — Venezuela, Peru, Chile, Uruguai e Argentina —, um prodígio de 1m58cm de altura em um ambiente dominantemente masculino.
"La jocketta brasileña", como ficou conhecida nos países vizinhos, competiu entre 1970 e 1981. Parou ao se casar, no Uruguai, mas não se afastaria por muito tempo do mundo das corridas. De volta a Porto Alegre, com a filha ainda de colo, ela começou a trabalhar como starter no Jockey Club. É responsável por dar a largada nas corridas do Cristal há quase 35 anos.
— Não consigo me imaginar em outra vida. É que nem sarna: tu pega e não consegue mais largar — conta.
Também formou novos competidores na escola de jóquei do clube, e, no dia a dia, ajuda na lida com os cavalos. Ricardo Felizzola, presidente do Jockey Club, refere-se a ela como uma profissional conceituada:
— E uma personalidade do turfe.
Suzana tinha cinco anos quando ganhou da mãe seu primeiro "matungo" (cavalo sem raça específica), com quem desfilava pelo bairro Ipanema. Com apenas 14 anos, seria indicada para competir em uma corrida em Canoas, como amadora. Ficou em segundo lugar. Entrou na escola do Jockey e, para começar a competir como profissional, foi um pulo.
— Nunca brinquei com boneca. Meus brinquedos eram bicho: vaca, terneiro, coelho e cavalo — afirma.
Nas fotos em preto e branco, cuidadosamente guardadas em dois álbuns, destaca-se com um semblante juvenil e delicado no meio de uma multidão de homens. Ignorava qualquer olhar de desaprovação.
— Preconceito? Várias vezes houve. Mas não é algo que eu tenha levada para mim.
A ex-joqueta lembra como se fosse ontem da adrenalina da corrida, quando surgia uma força, não sabe bem de onde, que lhe fazia disparar na pista. Hoje vê a mesma sensação nos olhos de uma nova geração de competidores, segundos antes de apertar o botão que abre as portas do partidor.
Ela faz questão de falar e repetir: adora o que faz. Quando entra no Jockey Club, parece que se teletransporta para outra dimensão, bem longe da Capital.
— Venho de bota, caminho no meio dos cavalos, sento na terra... Aqui é o paraíso — conclui.