Jaquetas reversíveis Tevah.
Se uma voz grave e até galanteadora surgiu na sua cabeça ao ler a frase acima, você pensou em João Antonio Santos Araujo — porto-alegrense que foi garoto-propaganda da marca gaúcha por cerca de 25 anos. Desfilando longos sobretudos e, é claro, as famigeradas jaquetas reversíveis, ele gravou comerciais na Áustria, na Itália, no Canadá, nos Estados Unidos, na Suíça e na França entre a década de 1980 e o começo dos anos 2000. E é bem possível que, resgatando na memória os anúncios das coleções no intervalo da novela, você lembre de chamá-lo de "careca do Tevah".
Aos 63 anos, João Antonio já não faz mais comerciais, mas se mantém um careca convicto — já chegou até a dispensar uma oferta de implante capilar grátis. Não precisa de muito tempo conversando com o homem para ter uma palhinha do seu repertório de piadas de autobullying, que começou a formar aos 18 anos, quando os primeiros fios caíram:
— Depois dos 19, não perdi mais cabelo porque comecei a guardar numa caixinha.
Guarda também boas memórias do tempo em que viajava para gravar os comerciais Brasil afora. Como quando quase caiu numa gôndola de Veneza ou ao ter de esperar em Cancun as malas com os modelitos que foram mandadas para a Itália, por erro da companhia aérea.
— Depois de comprar camisetas e calções, ficamos curtindo o mar do Caribe por três dias — conta.
Mas ser o careca da Tevah passa longe de resumir o currículo de João Antonio. Ele foi radialista (em emissoras como Cidade, Atlântida e Bandeirantes), empreendedor (teve os bares de Porto Alegre Sgt. Peppers e Abbey Road entre os anos 1980 e 2000) e músico (sua primeira banda foi Os Nômades). Para completar, é formado em Educação Física, e chegou a dar aula nos anos 1970. Nesta época, manteve até três empregos concomitantemente: trabalhava na Rádio Continental de madrugada, dava aulas no colégio Maria Goretti de manhã e atuava como assessor parlamentar na Assembleia Legislativa à tarde, "em uma época que ainda não tinha mala de dinheiro".
— Quer dizer: eu acho, porque para mim nunca apareceu — emenda.
Mas a outra grande fonte de fama para ele foi o Discocuecas, grupo de música e humor que formou com Júlio Fürst, Gilberto Travi (falecido em 2001) e Beto Roncaferro na década de 1970.
— A gente fazia uns shows e dançava que nem o John Travolta, de smooking para cima e cueca samba canção para baixo — explica.
Os "quatro rapazes reunidos em torno de ideal nenhum" — como define o próprio João Antonio — foram contratados por grandes gravadoras nacionais e chegaram a brilhar nos programas do Chacrinha e do Jô Soares. Em 2013, o Discocuecas comemorou os 35 anos de formação com um show no Teatro do Bourbon Country, na Capital.
João Antonio segue vivendo de música. Munido com violão e gaita de boca, apresenta-se no The Weiss Pub, na Rua Eudoro Berlink, às quintas-feiras e aos sábados, e no Weiss British Pub, na Benjamin Constant, às quartas e às sextas-feiras. Apressa-se em acrescentar que também está aberto para eventos, "de casamento a posse de síndico".
— Me dá essa força aí — implora à repórter, aos risos.
Rumo aos 50 anos de carreira, não consegue eleger uma entre as funções que já exerceu na vida como a mais prazerosa. "Escorpiano da gema", ele resume:
— Tudo que eu fiz foi com vontade de fazer.