Mesmo que funcionários da Carris tenham acendido o sinal amarelo para a possibilidade de greve, a paralisação nos ônibus da companhia não é uma questão dada como certa. Em assembleia realizada neste sábado, foi decretado estado de greve — etapa preparativa para o movimento —, reivindicando melhores condições de operação e a volta do pagamento no último dia útil do mês. Não há, ainda, confirmação se vão parar as atividades nem data para a próxima assembleia.
— Não queremos isso (greve), porque sabemos que vai prejudicar a empresa. Mas não estamos vendo outra saída, porque eles (prefeitura) não abrem diálogo conosco — diz Felipe Suteles, delegado sindical da Carris.
Suteles destaca que a empresa está trabalhando com cerca de cem carros quebrados por dia — praticamente um terço da frota estaria parado no pátio —, enquanto outros carros estariam em más condições, com pneu careca e problemas de freio, segundo ele.
— Na semana passada, trabalhei com dois carros que faltaram freio. Esses carros vão pra dentro da empresa, eles dão uma tapeada e liberam para outros trabalharem novamente com os mesmos problemas — relata.
Outra reivindicação dos funcionários diz respeito à data de pagamento de salários. O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, assinou decreto passando a data do pagamento da companhia e de outros órgãos para o quinto dia útil do mês.
Em nota, a Carris afirma que em cumprimento a decisão judicial emitida pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 4ª Região, em 4 de outubro, efetuou o pagamento dos vencimentos referentes ao mês de setembro aos seis funcionários que conseguiram medida judicial. Os demais receberam os salários no quinto dia útil.
— Faz 30 anos que a Carris paga nesses moldes (último dia útil do mês). Queremos que retomem — diz Suteles, alertando: — Se a quinzena for ameaçada, no dia 15, é bem provável que a gente pare.
Suteles afirma que os funcionários querem que o prefeito Nelson Marchezan e a presidente da Carris, Helen Machado, os procurem para dialogar, algo que ele diz não ter ocorrido ainda neste ano. Ele afirma que, até a tarde desta segunda, não havia sido marcada nenhuma reunião.
GaúchaZH entrou em contato com a Carris, mas a empresa informou que só responderia os questionamentos nesta terça-feira (10). A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) afirma que está acompanhando a situação e, sem dar mais detalhes, diz que tem planos de emergência para qualquer tipo de paralisação, a fim de garantir que usuários sigam atendidos.
A relação entre Marchezan e os servidores da Carris é tensa. O prefeito manifesta desejo de privatizar ou fechar a companhia e, recentemente, chegou a citar "roubo de peças" como dificuldade para consertar veículos. Em resposta, servidores distribuíram panfletos acusando o prefeito de "tentar desmoralizar a empresa Carris e seus funcionários , jogando ao vento coisas que não têm nem provas".