Na voz do condutor mais animado do trensurb, a chegada em cada estação é anunciada como se fosse um golaço de final de Copa do Mundo. A narração ocorre do centro de Porto Alegre a Novo Hamburgo, sem perder o fôlego ou a empolgação.
– Estação Farraaaaaaaapos!!!
– Estação Aaaaaaanchiiiieta!!!
– Eeeeestação São Luííííísss!!!
Vanderlei Dias Furtado, 54 anos, é o condutor metido a Galvão Bueno. Ele trabalha há 31 anos na Trensurb, mas apenas em janeiro de 2015 começou a pilotar os trens – antes, pilotava as bilheterias. O porto-alegrense começou no cargo transmitindo a informação sem grandes entonações, como os pilotos "normais".
– De uns quatro meses para cá, resolvi botar um pouco do meu estilo. Pensei: vamos ver no que vai dar – conta, sorridente.
O que deu é que Vanderlei recebeu a bênção do chefe e faz cada vez mais sucesso entre os passageiros. Eles ficam curiosos para conhecer o dono da voz: ao sair do trem, muitos vão espiá-lo na janela da cabine, nem que seja para fazer um sinal de "paz e amor". O condutor já posou para foto ao lado dos fãs, ganhou de presente caixa de Bis e trufas, além de incontáveis parabenizações, seja cara a cara ou nas redes sociais. "Ele é demaixxxx", grafa @leobno, pedindo um Oscar para Vanderlei. Na avaliação de @vivikgpavani, o maquinista é a "melhor pessoa": "Cara, eu te idolatro!!!", declarou no Twitter.
– A galera começou a gostar, e ganhei essa fama momentânea, de ser um dos pilotos mais gritões do trem – comenta Vanderlei. – Se eu posso dar alegria para as pessoas, por que não?
Dentro dos vagões, parte dos passageiros se surpreende, abre um sorriso, aguarda com ansiedade a próxima parada, mesmo que não seja a sua hora de sair. O estudante Gabriel Rodrigues aprovou:
– É uma animação a mais no dia, né? Deixa as pessoas mais felizes.
Anunciando as estações de forma diferente, Vanderlei conseguiu também tornar a função menos solitária – até então, a única comunicação que ele tinha nos pouco mais de 50 minutos de viagem era com a central de operações através do rádio. Na semana passada, com o trem lotado de gremistas depois do jogo pela Libertadores, conseguiu ouvir o "feedback" da sua animação.
– Depois de falar o nome da estação, eu ouvia, do primeiro ao último vagão gritar, vibrar. Foi maravilhoso, de arrepiar.
"Muito extrovertido" para a função
Agente de estação entre 1986 e 2014, Vanderlei já tinha vontade de conduzir o trem havia muito tempo. Em 1989, participou de uma seleção para o cargo, mas não passou porque a psicóloga considerou o candidato "muito extrovertido" para a função, de acordo com a lembrança do metroviário. Ele faz questão de ressaltar que não guarda mágoa alguma: acredita que tudo tem seu tempo.
– Hoje, fico muito feliz em estar fazendo isso. Adoro essa função.
Não há um veículo ou horário único dirigido por Vanderlei, então encontrar o condutor-narrador é questão de sorte. A experiência depende ainda de o passageiro pegar um dos 25 trens antigos, pois os novos têm aquela voz feminina de secretária eletrônica anunciando as estações, em mensagem gravada. Mas Vanderlei não fala mal da "concorrência" robotizada.
– Não posso falar nada contra: o (trem) que vier, vou, e fico quieto – ri.