Alegando falta de dinheiro, a prefeitura de Porto Alegre não tem oferecido apoio financeiro a tradicionais eventos da cidade. E a Parada Livre – que chama atenção para questões relacionadas à população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) – não fugirá à regra.
Em reunião realizada na segunda-feira (17) com a secretária municipal de Desenvolvimento Social, Maria de Fátima Paludo, as entidades que organizam o evento tiveram a confirmação: o Executivo não dará verba para bancar palco, luz, trio elétrico, sistema de som, banheiro químico e demais estruturas requisitadas para a 21ª edição do evento, marcada para 26 de novembro, na Redenção.
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Apesar disso, Célio Golin, um dos fundadores da ONG Nuances, que atua na organização, garante que o evento está mantido.
– E acho que vai ser maior – enfatiza, relatando que a organização iniciou em maio.
Os organizadores rechaçaram a ajuda ofertada pela prefeitura na busca de incentivo privado, mas buscam apoio de estabelecimentos como bares e boates por conta. Golin adianta que há a ideia de se fazer uma vaquinha online para ajudar a bancar os cerca de R$ 50 mil que deixarão de ser repassados pelo poder público.
A secretária Maria de Fátima afirma que havia se reunido com as entidades organizadoras no começo do mês e, a pedido delas, consultou o prefeito sobre o aporte de verbas. Nelson Marchezan confirmou o que já estava sendo falado desde o início do ano: não liberaria dinheiro.
– Vamos dar o que é obrigação do município: a estrutura da EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação), do DMLU (Departamento Municipal de Limpeza Urbana) e da Guarda Municipal. Inclusive, propus que 30 dias antes se faça uma reunião para deixar tudo organizado – acrescenta Maria de Fátima.
Em um texto publicado na página do evento no Facebook no final de junho, os organizadores criticaram o governo Marchezan, afirmando que, "pela primeira vez em 21 anos", não contariam com apoio financeiro da prefeitura: "Entendemos que esta posição da prefeitura é um ato de desrespeito ao histórico de luta e atuação dos movimentos que fazem a Parada Livre acontecer anualmente, bem como um não reconhecimento da importância do evento em seu formato singular de ocupação do espaço público e afirmação das identidades e dos Direitos LGBT". Também se queixaram de não conseguir marcar reunião com o prefeito.
Maria de Fátima, que recebeu as entidades em duas oportunidades, partiu em defesa da prefeitura. Após afirmar que "o prefeito não pode receber todo mundo", destacou:
– Depois que não se colocou (dinheiro) no Carnaval, nos Navegantes, não há o que se discutir. É por falta de condições financeiras, e eu não admito que seja dito qualquer outra coisa.
Acampamento Farroupilha também não receberá dinheiro do município
De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura, em 2017 as festas populares não receberam aporte financeiro em função de "dificuldades orçamentárias". O município deixou de repassar verba para a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, Via Sacra do Morro da Cruz e até mesmo o Carnaval.
Nesta terça-feira (18), a prefeitura e o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) assinaram acordo para a realização do evento, que também não terá auxílio financeiro do município. Nairo Callegaro, presidente do MTG, relata que no ano passado, a prefeitura já não repassou os R$ 150 mil previstos, e que o movimento já trabalhava com a possibilidade de não contar com aporte financeiro do município neste ano.
– O desafio aumenta, mas não é impossível (fazer o evento) – diz Callegaro.
A Secretaria Municipal de Cultura ressalta que a prefeitura auxilia com serviços (do DMLU e da EPTC, por exemplo) e auxilia na busca de apoio da iniciativa privada.