De sonho aguardado há décadas por moradores do Bairro Sarandi, na Zona Norte de Porto Alegre, a obra de alargamento de 400m do arroio Sarandi se tornou um problema. Iniciada no ano passado e avaliada em R$ 3,2 milhões, a construção está parada há quase 30 dias, desde que a construtora responsável deixou o canteiro de obras sob a alegação de não ter recebido os repasses da prefeitura.
O resultado da paralisação vem causando transtornos na região. Montanhas de barro retiradas do valão estão apodrecendo na esquina da Rua Alameda 3 de Outubro, trechos antes asfaltados da Avenida Sarandi viraram estrada de terra e, na semana passada, parte da Avenida Sarandi foi engolida pelo arroio durante uma chuvarada. A erosão vem aumentando a cada passagem de caminhão. Cerca de 5m da parede de pedras que segurava a margem desmoronou em frente à Rua Itaeté.
Temendo o pior, os próprios moradores da avenida usaram os sinalizadores da obra para apontar os locais que estão despencando.
– Nosso maior medo é que tudo venha abaixo na próxima chuva. Liguei para a EPTC, mas me disseram que eu deveria registrar um protocolo – reclama a confeiteira Marcela Medeiros, 33 anos.
Moradora da avenida desde o nascimento, Marcela conta que há pelo menos 20 anos a região começou a enfrentar o transbordamento do arroio. Basta uma chuva forte de 30 minutos para alagar as casas da via. A própria confeiteira perdeu móveis mais de uma vez.
Ao longo da avenida, dezenas de portões são vistos com placas móveis de metal utilizadas nos períodos chuvosos.
– Fazer comportas foi a forma encontrada pela vizinhança para tentar escapar dos alagamentos. Mas, nos últimos anos, as enchentes se tornaram mais violentas, e nem as comportas estão adiantando – ressalta Marcela.
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É o caso da comerciante Vera Pedroso, 58 anos, que instalou no portão de casa uma placa com cerca de 50cm de altura. A tentativa de fugir das chuvas, porém, se tornou nula. Vera deixou de calcular os prejuízos, e alternativa foi colocar a casa à venda. O problema é que não surgem compradores.
– Na chuvarada da semana passada ficamos com água pelo joelho dentro de casa. Acho que vou ter que aumentar o tamanho da placa até conseguir vender o terreno – lamenta.
Junto com o alargamento do arroio, a obra prevê a implementação de um fundo de concreto armado e de um muro lateral com um metro de altura acima do nível da rua. Também serão construídas novas passarelas com corrimão para pedestres. Nada disso ainda foi feito, apesar de a placa da obra prever o fim dela em menos de um mês.
Ao tomar conhecimento, por meio do jornal, da situação de desmoronamento na região, a EPTC realizou ainda na terça-feira passada o monitoramento no local e prometeu reforçar a sinalização existente.
A Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade (Smim) reconhece ter pendências financeiras com a MGL Engenharia, construtora responsável pela obra. Inclusive, "encaminhou um pedido de excepcionalização para efetuar os pagamentos pela Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana à Secretaria Municipal da Fazenda, em virtude de desmoronamento ocasionado pelas chuvas". A intenção, segundo a Surb, é pagar a dívida – o valor não foi informado – antes do término das férias coletivas. A previsão de retorno dos funcionários ao trabalho é no próximo dia 8. Por telefone, a reportagem tentou contatar com a construtora. Porém, até a publicação, não houve retorno das ligações.