Consta na Declaração Universal dos Direitos Humanos: todo ser humano tem capacidade para gozar direitos e liberdades, sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, ou qualquer outra condição. Cunhada na década de 1940 para servir de inspiração também à elaboração de políticas públicas mundo afora, a premissa de diversidade ganhou cara nova com o passar do tempo. Hoje, é cada vez mais explorada por grupos independentes, com um objetivo em comum: fazer da cidade um ambiente mais plural e criativo, pautada pelo respeito às diferenças.
– Isso é a alma da cidade. Esse viver, essa liberdade de criar, de ocupar a cidade no sentido de construir uma linguagem democrática – avalia a doutora em antropologia Cornelia Eckert.
Leia mais:
Quatro iniciativas que fazem de Porto Alegre uma cidade mais diversa
Em 50 anos, veja o que mudou em cinco avenidas de Porto Alegre
Quem não participa ativamente com certeza já deparou – pessoalmente ou em redes sociais – com projetos, eventos e lugares que querem promover a inclusão ou debater assuntos ainda pouco discutidos em grandes grupos. O menu é amplo e diversificado, indo desde coworkings (espaços compartilhados de trabalho) voltados à economia criativa e eventos que promovem acesso à arte a preços acessíveis ou gratuitamente até coletivos que discutem os direitos das mulheres, lugares que sediam debates sobre a sexualidade ou projetos que tem como objetivo promover a cultura afro.
Em Porto Alegre, como em outras cidades, os exemplos podem ficar restritos a quem se identifica com a pauta. Mas, muitas vezes, eles têm ido além dos limites das tribos ou grupos de interesse específicos, convidando a população em geral a conhecer melhor o tema e compartilhar ideias. É o caso de eventos abertos de arte, gastronomia e cultura, como as feiras de rua, e de lugares que trabalham questões étnicas ou sociais específicas, realizando oficinas, cursos e eventos focados na promoção dessas culturas.
Para Cornelia, que é professora da UFRGS, o principal mérito dessas atividades é fazer a manutenção da democracia na cidade, permitindo que os indivíduos se expressem ou se associem em torno de pautas comuns, como é o caso dos coletivos. Mas também ajuda na formação de cidadãos mais conscientes e melhor inseridos numa sociedade onde as fronteiras são cada vez mais tênues.
– As pessoas não têm de ter uma única identidade, imposta, como ser porto-alegrense. Somos seres da globalização, não só da localização. É importante e interessante que se reúnam para conversar, trocar ideias, divergir, aprender a negociar. Essas atividades permitem uma ruptura com a alienação, com a indiferença, com a desconfiança. Onde não tem confiança, não se consegue ter um projeto coletivo – diz.
Ativistas de organizações mais tradicionais também veem com bons olhos as iniciativas de indivíduos e grupos independentes para dar visibilidade a assuntos cercados de dúvidas e tabus, como as questões de gênero e sexualidade. Coordenadora técnica da ONG Somos, Claudia Penalvo explica que atitudes que promovem a inclusão de parcelas minoritárias da população são positivas para a sociedade em geral, porque, ao combater o preconceito, criam um ambiente mais amigável e seguro para todos.
– No Brasil, em geral esse movimento ainda é tímido, porque existe uma força conservadora que toma conta. No RS, temos iniciativas pequenas, e piorou depois que os governos tiraram dos planos de educação a questão de gênero e sexualidade. Então, essas atividades preenchem lacunas. Mas o estado também precisa fazer isso, para promover educação e segurança – observa.